
É o Amor que nos Mantém em Vida
A nossa vida vale mais daquela de Jesus. Posso parecer blasfemo, mas não sou eu que digo isso. É o próprio Jesus ao afirmá-lo quando sacrifica a própria vida por nós. A razão disso chama-se Amor. O Seu amor não conhece limites. Não se poupa. Não faz diferenças. Enxerga, diz e faz coisas que a razão, por si só, nunca veria, diria e faria. Está disposto a correr risco. Não impõe condições. Não exige nada em troca. É excedente e transbordante. É oblativo. Coloca o bem alheio acima do próprio. Sai de si mesmo para ir em busca do melhor para os/as outros/as. O Seu exemplo é gratificante e, ao mesmo tempo, desafiador. Amar não é prender alguém e ter domínio sobre ele. Amar não é dobrar alguém a seus interesses e servir-se dele para alcançar o que lhe agrada. Amar é muito mais do que executar uma série de ações benéficas. Amar consiste em desejar o bem do(a) outro(a), é fazer de tudo para contribuir com sua felicidade. É cuidar bem de sua vida e prezar pela sua liberdade. Todo amor que não promove a vida, o bem e a liberdade não convém.
Jesus manda amar assim: “Este é o meu mandamento: amais-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. A associação do amor com mandamento parece até uma contradição. Ninguém pode ser obrigado a amar. Não existe amor sem liberdade. O mandamento é regra, compulsão, imposição. Uma corda no pescoço. O amor, por outro lado, é liberdade, criatividade, uma folia divina… Tudo isso é verdade. Mas o amor é, sobretudo, necessidade. Viver é amar e amar é viver. Não dá para viver sem amar e ser amado. O amor nunca pode ser colocado em risco. Está em jogo a sobrevivência da humanidade. O inferno não é sentença de condenação de um deus vingativo e tirano, mas a consequência do nosso desamor. É a lenta maturação de nossas escolhas sem amor. O maior perigo é não amar. É por isso que Jesus ordena de amar. Pois é do amor autêntico que brota a liberdade. É o caminho indispensável para viver em plenitude.
Como bom pedagogo, Ele propõe um percurso em duas etapas: “1. Amai-vos uns aos outros. Não simplesmente: amai-vos, mas uns aos outros. Não se ama a humanidade genérica e teoricamente. Você ama as pessoas uma a uma; ama esse homem, essa mulher, essa criança, o pobre que está ao seu lado… Ama cara a cara, olho no olho. 2. Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Ele não diz “tanto quanto eu”, porque nunca chegaríamos lá, mas “como eu”, com o Seu estilo, com o Seu jeito único: como Ele que lava os pés dos adultos e abraça as crianças; que vê um doente e prova uma dor intensa em suas entranhas; que se comove e toca a carne, a pele, os olhos dos enfermos; que se indigna diante das injustiças; que não manda ninguém embora, mas acolhe todo mundo de braços abertos” (Ermes Ronchi). Este é o jeito de amar necessário para sermos gente de verdade. Não é fácil, até porque o mundo não pensa assim. Incompreensões e perseguições constituem o pão de cada dia de quem decide fazer do Amor sua razão de vida. Como dizia Paulo Freire, quando nós nos propomos a praticar o amor Deus as pessoas podem dizer que se trata de loucura. O apóstolo Paulo escreveu que o Evangelho é loucura para os descrentes. Mas Blaise Pacal afirmava que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Tenham o bom e abençoado dia.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano).