Em Busca da Vida Plena
A vida é um bem precioso. Não pode ser desperdiçada. Vale a pena vivê-la intensamente. Mas, muitas vezes, perdemos a alegria de viver. Nossos dias parecem transcorrer sem sentido. Há quem chegue ao ponto de tirar a própria vida porque não sente mais o prazer de viver. O que fazer para recuperar o gosto pela vida? Jesus nos propõe cinco passos.
Retornar à fonte da vida. “Eu sou a verdadeira videira”, diz Jesus a seus discípulos. O adjetivo “verdadeira” lhe dá o caráter de exclusividade. Nele se cumpre e se esgota toda a essência da videira. Cristo é o novo povo de Deus que se contrapõe ao antigo que não deu os frutos esperados. Também se contrapõe a todas as outras formas de vida que são infrutíferas e ineficazes. Ele é a verdadeira Vida. A verdade que nos liberta. É o Caminho que leva à plenitude de Vida que tanto desejamos. É a razão e o sabor da vida. É da união real com Ele que depende a nossa alegria de viver. Vale a pena confiar n’Ele, até porque no mundo nem sempre encontramos realidades verdadeiras. A sociedade em que vivemos está perdendo a conotação de verdade. Vivemos numa realidade paralela, distorcida, virtual, confusa, cheia de falsidades, sem pontos de referência seguros, marcada pelo individualismo e pela indiferença, pelo relativismo e pela busca obsessiva do prazer. É um mundo frívolo, insatisfeito, escravo das aparências, que não favorece o encontro, o entrelaçamento das relações, a generosidade do intercâmbio, mas que afasta o ser humano do seu semelhante com a ilusão de fazer dele uma ilha aparentemente feliz, mas que, na realidade, o faz afundar na tristeza e na depressão. A alternativa é voltar à fonte da vida, estreitar a nossa relação com Jesus. Ao fazer isso, estamos em boas mãos porque o agricultor, isto é, aquele que cuida da vinha e, portanto, também de nós, não é qualquer pessoa, mas é o mesmo Deus. Ele é o autor da vida. Portanto, sabe muito bem o que significa viver.
Cortar na própria carne. Os agricultores entendem disso: toda planta, para dar melhores e mais abundantes frutos, tem que passar pela poda. É uma arte difícil e é fonte de sofrimento, mas é necessária. Ela não acontece apenas pelo gosto sádico de cortar, mas sobretudo para revitalizar a planta. O agricultor, ao podar, não olha para o galho que cai, mas põe sua confiança no ramo que fica. Muitas vezes corta o galho maior, deixando o galho mais fraco. Mas naquele ramo frágil, com os olhos da fé, já vislumbra a abundância de uvas maduras. Quem não é agricultor se surpreende, porque só vê a dor do presente. Não percebe e não sabe explicar certos cortes. Acha até que são absurdos. Só o agricultor entende. Deus é assim: Ele opera cortes na nossa carne não para nos fazer sofrer, mas para nos fazer viver melhor, para nos tornar felizes. Para acabar com tudo o que nos impede de viver plenamente. Deixar-se podar por Deus significa, portanto, ser remodelado por Ele de tal forma que o sangue vital do Filho possa fluir em nossas veias, tornando-nos cada vez mais semelhantes a Ele.
Passar a vida a limpo. Não basta cortar os galhos que não prestam. Precisa limpar aqueles que dão fruto, para que deem mais fruto ainda. Passar a vida a limpo é pautá-la nas virtudes e nos valores “eternos”. Infelizmente, estamos jogando fora os valores. Falamos muito de ética, mas não a vivemos. As nossas escolhas são cada vez mais ambíguas precisamente porque não se baseiam neles. Mas a experiência nos ensina que o exercício de certas virtudes e a prática de certos valores são fundamentais na construção da própria personalidade. Onde encontrar tudo isso? A resposta de Jesus é clara: “na palavra que vos tenho dito”. É na vida de Jesus Cristo, no Evangelho vivo, que podemos encontrar a “lista” das virtudes e valores que nos permitem de viver e conviver bem.
Permanecer n’Ele. Em poucas linhas o verbo permanecer é repetido seis vezes (vv.4.5.6.7.9.10). Gosto desta insistência, porque abala todas as alegadas declarações de autonomia absoluta com que muitas vezes inchamos o nosso “eu” e que constituem a causa de muitos dos nossos fracassos e frustrações. Hoje Jesus diz-nos claramente, sem meias palavras que não bastamos a nós mesmos. O Senhor ressuscitado convida-nos a permanecer com Ele, a saborear esta estupenda e doce dependência, a fazer da intimidade com Ele o lugar mais verdadeiro da nossa pessoa, a experimentar que só Ele pode satisfazer os desejos mais profundos da nossa vida. Permanecer em Cristo significa estar imbuído d’Ele. Reconhecer que Ele é a fonte da Graça, a origem da linfa que nos mantém em vida, o poço donde brota o essencial para a nossa existência. Nessa ancoragem contínua a Ele há também a legítima expectativa de que o que Lhe pedimos possa ser respondido de alguma forma, de modo que não somos mais nós que pedimos, mas é o mesmo Espírito que toma conta de nós e nos faz suplicar o que Ele quer e não simplesmente o que nos interessa.
Dar muito fruto. A fé, sem as obras, é morta. A experiência cristã que não tem implicações na vida não é autêntica. O Evangelho, quando é autenticamente acolhido, transforma a vida pessoal e comunitária. O/a cristão se reconhece pelos frutos, pelas boas obras. O novo nome da moral evangélica, de fato, não é sacrifício, mas fecundidade; não é fechamento numa redoma de vidro para preservar-se da contaminação do mundo, mas imersão no mundo como sal, fermento e luz; não é só renúncia, mas sobretudo abundância e generosidade. As penitências são úteis se servem a produzir melhores frutos. Os cortes não são exercícios de autolesionismo ou prova de heroísmo. Se pararem nisso, representam sintomas de algum sofrimento psíquico. Só servem em vista de uma maior fecundidade. É bom lembrar que nenhuma árvore consome seus frutos, nenhuma videira come as próprias uvas. Produzem para oferecer, geram para doar. Sua alegria é fazer a festa de quem se nutre da sua produção. Viver é amadurecer para produzir e doar o melhor de si mesmos/as.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)