São Daniel Comboni na nossa experiência espiritual
Nós somos um Instituto consagrado missionário cujo nome oficial é «Missionários Combonianos do Coração de Jesus». Os elementos constitutivos do nome, que formam a nossa identidade espiritual, são a missão, São Daniel Comboni e o Coração de Jesus. Destes três elementos, dois (a missão e o Coração de Jesus) partilhamo-los com toda a Igreja e com muitos outros Institutos de vida consagrada. Especificamente nosso é o papel de São Daniel Comboni, ou seja, como ele soube unificar na sua espiritualidade de forma pessoal e singular a missão e o Coração de Jesus. Aquilo que nos é específico, a nós como seus herdeiros, é a sua experiência missionária e o seu específico modo de viver da espiritualidade do Coração de Jesus na Igreja.
O elemento inspirador da nossa espiritualidade definindo o papel de São Daniel Comboni: «O Espírito que suscitou em Comboni o amor pelos africanos, continua a conduzir-nos para os po-bres e aos últimos». O amor de Comboni pelos africanos não foi um amor sentimental, mas um amor-ágape proveniente do Espírito Santo, do mais profundo do Coração de Jesus. É assim que enquanto fundador, São Daniel Comboni é para nós não somente o depositário do núcleo central do carisma, mas é através dele que o Espírito Santo se torna presente e nos revela aquele estilo particular de vida e de missão que caracteriza o nosso Instituto na Igreja. Eis a razão pela qual ele é uma mediação essencial do encontro do comboniano com Cristo: ele é para o comboniano o intermediário entre a missão e o Coração – cruz de Cristo.
Ao procurar aprofundar o papel de São Daniel Comboni na nossa espiritualidade, descobrimos dois elementos que caracterizaram Comboni como missionário e que deveriam ser constitutivos do ADN de cada comboniano. Trata-se do Coração como amor-paixão e da cruz como amor-causa comum com os últimos. Coração e cruz são inseparáveis na espiritualidade de Comboni. Estes dois elementos são portanto também os pilares da espiritualidade do verdadeiro comboniano.
O CORAÇÃO COMO AMOR-PAIXÃO PELOS ÚLTIMOS
Por tanto, «como Combonianos descobrimos no mistério do Coração do Bom Pastor a razão que nos anima a uma doação total e nos impele para os pobres e abandonados» . Foi de Comboni que herdámos este mistério do Coração do Bom Pastor. É contemplando a sua vida missionária e a sua união com o Coração de Jesus que podemos compreender o significado concreto do Coração do Bom Pastor. Cada comboniano interpreta a seu modo este mistério do Coração de Jesus que o anima para uma doação total aos mais pobres e abandonados. É isto que faz a riqueza da nossa espiritualidade, uma espiritualidade viva, apaixonada, que nos coloca sempre em movimento para o outro, sobretudo os últimos das nossas sociedades.
Eis o mistério do Coração do Bom Pastor que animou Comboni para se doar inteiramente aos africanos. O seu único objetivo missionário foi o de preparar, acompanhar e promover as núpcias entre o Deus de Jesus e os africanos, dizendo-lhes que têm valor aos olhos de Deus quando não contavam nada aos olhos do mundo. Assim, quando contemplo o Amor-paixão de Comboni pelos africanos, a ponto de lhes anunciar solenemente que «o dia mais feliz da minha existência será aquele em que eu possa dar a vida por vós»
O amor-paixão de Deus pela humanidade tornado possível no seu Verbo feito carne concretizou-se no Amor-paixão de Comboni pelos africanos.
E o lugar da realização deste Amor-paixão de Jesus é aos pés do Calvário, porque é lá que «as grandes Obras de Deus nascem e crescem». É aos pés do Calvário que se realizam as núpcias da Cruz. A aliança, as núpcias são do esposo crucificado com os pobres. Eis por que para Comboni o mistério do Coração de Jesus não se compreende senão contemplando a cruz. Ele convida cada comboniano a esta contemplação e a adquirir esta disposição essencial «tendo sempre os olhos fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e procurando entender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz pela salvação das almas; e renovando frequentemente a sua oferta a Deus».
A CRUZ COMO AMOR-CAUSA COMUM COM OS SOFREDORES DO MUNDO
São Daniel Comboni viveu uma espiritualidade da cruz de tal maneira profunda que não cessa de dizer: «O caminho que Deus me traçou é a cruz». «Eu sou feliz na cruz, que levada de boa von-tade por amor de Deus gera o triunfo e a vida eterna». Esta experi-ência de Comboni é para o comboniano a única fonte e a força do seu fazer causa comum com os inumeráveis sofredores do nosso mundo.
Meditando profundamente as cartas e os escritos de Comboni, é possível encontrá-lo a falar explicitamente dos conselhos evangélicos na sua relação com a cruz. Esta relação dos conselhos evangélicos com a cruz é articulada na espiritualidade de Comboni deste modo:
- A obediência – a obediência como cruz é entendida por Comboni como renúncia e limite da iniciativa pessoal, «porque a renúncia a si mesmo e a tudo o que é próprio para se lançar nos braços da obediência e de Deus, não se obtém sem a ajuda extraordinária da graça». Neste sentido Comboni pode desejar a cruz e pedir que Deus lhE envie.
- A Castidade – na espiritualidade de Comboni, o significado da cruz e do voto de castidade é mais manifesto no aceitar a solicitude que deriva da vida de castidade. Comboni exigia dos can-didatos ao apostolado no vicariato da África Central uma castidade bem experimentada. E isso não é possível senão com a graça de Deus, a única capaz de ajudar a permanecer firmes na castidade.
- Pobreza – a relação entre voto de pobreza e cruz pode compreender-se mais facilmente olhando para o vivido quotidiano dos missionários que se reportam a Comboni: viver numa dimensão de total dependência da comunidade e na partilha de tudo aquilo que se é e se tem. Neste sentido, a pobreza unida à cruz molda pouco a pouco o missionário a uma cultura da comunhão, que é fruto de uma abertura à interculturalidade, e à educação à sobriedade, à simplicidade voluntária, à ética do limite. Que é um sinal visível da opção pela radicalidade e a austeridade evangélicas. Fazer causa comum com os mais pobres e abandonados, aceitar e viver assim, é o que significa aceitar a cruz. É em função desta opção preferencial pelos pobres e por viver concretamente a relação entre a cruz e o voto de pobreza que, seguindo o fundador, as combonianas e os combonianos desenvolvem a sua pastoral prioritariamente nos ambientes desfavorecidos. Eis por que Comboni quer os seus missionários «inflamados de uma caridade que tenha a sua fonte em Deus e de amor a Cristo», porque «o verdadeiro apóstolo não retrocede nunca perante os mais fortes obstáculos, perante as mais violentas oposições e aguenta a pé firme o temporal das tribulações, os embates das desventuras: ele marcha para o triunfo pelo caminho do martírio».
Numa palavra, pode dizer-se que o comboniano aceita da experiência o escândalo da cruz sabendo que as obras de Deus nascem e crescem através de dificuldades e sofrimentos de todo o género. Colocando no centro da sua vida o Senhor crucificado, o comboniano aceita com coragem a cruz a nível pessoal, comunitário e missionário.
CONCLUSÃO
À maneira de conclusão dizemos com o apóstolo Paulo que a linguagem do Coração e da cruz é pura «loucura», porque é a linguagem do amor louco, completamente cego. Só os simples, os pobres o compreendem porque o vivem. E Comboni compreendeu esta linguagem. Que é inimaginável e incompreensível sem o mis-tério do Coração e da cruz do Bom Pastor. Comboni compreendeu o Evangelho do Coração e da cruz vislumbrando aí o lugar onde Deus se diz e se dá em Jesus como um «Amo-te com um amor infinito e eterno». A Cruz é o lugar comum de todo o discípulo para amar como Deus. E amar como Deus não é coisa fácil desde que existe o pecado cuja origem nos envolve de tal modo que o amor humano é quase sempre egoísta e narcisista. O amor de Deus, pelo contrário, resume-se num sinal, num desígnio que Comboni nos transmitiu: um Coração e uma cruz. Tornar-se Comboniano significa tomar sobre si este desígnio, este sinal de pertença a Cristo e a Comboni.
P. Joseph Mumbere Musanga, mccj
Eu dou a vida pelas ovelhas (Jo 10, 14-30)
Estamos necessitados de algo parecido com o “fogo” de que Jesus foi tomado em sua breve passagem pela terra: sua mística, sua lucidez, sua paixão pelo ser humano. Precisamos de pessoas como Ele, de palavras como as dele, de esperança e amor como os dele. Precisamos retornar a Jesus.
O Evangelho de João apresenta Jesus como o “PASTOR“, capaz de libertar as ovelhas do redil onde estão encurra-ladas para “levá-las para fora” a um país novo de vida e dignidade. Ele vai à frente marcando o caminho aos que querem segui-lo.
Jesus não impõe nada. Não força ninguém. Chama cada um “por seu nome“. Cada um tem nome e rosto próprios. Cada um deve escutar sua voz sem confundi-la com a de estranhos que não passam de “ladrões’ que roubam do povo luz e esperança. O decisivo é isto: não escutar vozes estranhas. “…elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.” não escutar vozes estranhas. Isto me lembra o chamado do Papa Francisco à juventude no México nestes dias que se encontra naquele pais asteca de visita pastoral, ele chama aos jovens a não se deixar enganar pelas vozes estranhas que durante o percurso do caminho possam escutar, Jesus Cristo não chama aos jovens as ser “sicários” da morte, ele nos chama de Amigos. Ele nos conhece e nós o devemos de conhecer.
“Minhas ovelhas escutam a minha voz… e me seguem”. Depois de vinte séculos, nós cristãos temos que recordar de novo que o essencial para ser a Igreja de Jesus é escutar sua voz e seguir seus passos.
DESPERTAR A CAPACIDADE DE ESCUTAR A JESUS: Se não quisermos que nossa fé se vá diluindo progressivamente em formas decadentes de religiosidade superficial, no meio de uma sociedade que invade nossas consciências com mensagens, palavras de ordem, imagens, comunicados e anúncios de todo tipo, temos que aprender a pôr no centro de nossas comunidades a Palavra viva, concreta e inconfundível de Jesus, nosso único Senhor.
Mas não basta escutar sua voz. É necessário seguir seus passos. Chegou o momento de decidir-nos entre contentar-nos com uma “religião burguesa” que tranqüiliza as consciências, mas afoga nossa alegria, ou aprender a viver a fé cristã como uma aventura apaixonante de seguir a Jesus.
A aventura consiste em crer no que Ele acreditou, dar importância ao que Ele deu importância, defender a causa do ser humano como Ele a defendeu, aproximarmos dos indefesos e desvalidos corno Ele se aproximou, ser livres para fazer o bem como Ele o fez, confiar no Pai como Ele confiou e enfrentar a vida e a morte com a esperança com que Ele as enfrentou. Daniel Comboni na sua vida mesma nos ensina ter os olhos fixos em Jesus Cristo porque so ai tem sentido nossa labor missionária, e a nossa labor missionária no mundo não consiste em “fazer” senão no “ser”: ser presença viva de Deus nas realidade que nos interpela e nos questiona, ser pastores com cheiro de ovelhas. Saber olhar, saber tocar, saber cuidar é parte também de ser pastores no meio das ovelhas do Pai. Também interessar-se pelo que Ele se interessou e amar as pessoas como Ele as amou. Os primeiros missionários de comboni na África entenderam a vida cristã como uma aventura constante de renovação, um ir fazendo de si mesmo e dos povos africanos um “ser humano novo”.
Quantos de nós ignora que o “Grande Pastor” que cuida e guia a vida de cada ser humano é Deus. Vivemos como “órfãos” que perderam seu Pai. A crise nos ultrapassa. O que se pede de nós, parece-nos excessivo, fora do alcance. Para nós é difícil perseverar com ânimo numa tarefa sem vislumbrar nenhum êxito. Sentimo-nos sós e cada um se defende como pode. perseverar com ânimo
“Que nós estejamos em crise, não significa que Deus esteja em crise. Que nós cristãos estejamos perdendo o ânimo, não quer dizer que Deus tenha ficado sem forças para salvar. Que nós não saibamos dialogar com o homem de hoje, não significa que Deus já não encontra caminhos para falar ao coração de cada pessoa. Que as pessoas abandonem nossas Igrejas, não quer dizer que elas escapem das mãos protetoras de Deus. “Meu Pai, que me deu as ovelhas, supera a todos e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” DEUS CONTINUA SENDO DEUS. Ter uma atitude de confiança e de docilidade! Creio em ti, Senhor! Faz de mim o que quiseres!
O pastor, então, simboliza o chefe que governa e dirige o povo. Sua principal tarefa é vigiar, guiar e proteger o rebanho. Quando os primeiros cristãos falam de Jesus como “Bom Pastor”, não o fazem, porém, para apresentá-lo como chefe e comandante de um povo, mas para destacar sua preocupação pela vida das pessoas. Jesus é “Bom Pastor” não porque saiba governar, conduzir e vigiar melhor do que ninguém, mas porque é capaz de “dar sua vida“ pelos outros.
A bela imagem de Jesus como “Bom Pastor” enraizou-se bem nos primeiros séculos do cristianismo, pois sugere o cuidado de Cristo pelos seus, seu serviço e entrega total, sua disponibilidade para dar a vida pelas ovelhas. E nós? Como tem sido o nosso cuidado com os nossos irmãos? Estamos a serviço do anúncio da boa notícia? Como tem sido a nossa entrega e disponibilidade? Que tipo de sim estamos dando?
Estamos necessitados de algo parecido com o “fogo” de que Jesus foi tomado em sua breve passagem pela terra: sua mística, sua lucidez, sua paixão pelo ser humano. Precisamos de pessoas como Ele, de palavras como as dele, de esperança e amor como os dele. Precisamos retornar a Jesus.
O Evangelho de João apresenta Jesus como o “PASTOR“, capaz de libertar as ovelhas do redil onde estão encurra-ladas para “levá-las para fora” a um país novo de vida e dignidade. Ele vai à frente marcando o caminho aos que querem segui-lo.
Jesus não impõe nada. Não força ninguém. Chama cada um “por seu nome“. Cada um tem nome e rosto próprios. Cada um deve escutar sua voz sem confundi-la com a de estranhos que não passam de “ladrões’ que roubam do povo luz e esperança. O decisivo é isto: não escutar vozes estranhas. “…elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.” não escutar vozes estranhas. Isto me lembra o chamado do Papa Francisco à juventude no México nestes dias que se encontra naquele pais asteca de visita pastoral, ele chama aos jovens a não se deixar enganar pelas vozes estranhas que durante o percurso do caminho possam escutar, Jesus Cristo não chama aos jovens as ser “sicários” da morte, ele nos chama de Amigos. Ele nos conhece e nós o devemos de conhecer.
“Minhas ovelhas escutam a minha voz… e me seguem”. Depois de vinte séculos, nós cristãos temos que recordar de novo que o essencial para ser a Igreja de Jesus é escutar sua voz e seguir seus passos.
DESPERTAR A CAPACIDADE DE ESCUTAR A JESUS: Se não quisermos que nossa fé se vá diluindo progressivamente em formas decadentes de religiosidade superficial, no meio de uma sociedade que invade nossas consciências com mensagens, palavras de ordem, imagens, comunicados e anúncios de todo tipo, temos que aprender a pôr no centro de nossas comunidades a Palavra viva, concreta e inconfundível de Jesus, nosso único Senhor.
Mas não basta escutar sua voz. É necessário seguir seus passos. Chegou o momento de decidir-nos entre contentar-nos com uma “religião burguesa” que tranqüiliza as consciências, mas afoga nossa alegria, ou aprender a viver a fé cristã como uma aventura apaixonante de seguir a Jesus.
A aventura consiste em crer no que Ele acreditou, dar importância ao que Ele deu importância, defender a causa do ser humano como Ele a defendeu, aproximarmos dos indefesos e desvalidos corno Ele se aproximou, ser livres para fazer o bem como Ele o fez, confiar no Pai como Ele confiou e enfrentar a vida e a morte com a esperança com que Ele as enfrentou. Daniel Comboni na sua vida mesma nos ensina ter os olhos fixos em Jesus Cristo porque só ai tem sentido nossa labor missionária, e a nossa labor missionária no mundo não consiste em “fazer” senão no “ser”: ser presença viva de Deus nas realidade que nos interpela e nos questiona, ser pastores com cheiro de ovelhas. Saber olhar, saber tocar, saber cuidar é parte também de ser pastores no meio das ovelhas do Pai. Também interessar-se pelo que Ele se interessou e amar as pessoas como Ele as amou. Os primeiros missionários de comboni na África entenderam a vida cristã como uma aventura constante de renovação, um ir fazendo de si mesmo e dos povos africanos um “ser humano novo”.
Quantos de nós ignora que o “Grande Pastor” que cuida e guia a vida de cada ser humano é Deus. Vivemos como “órfãos” que perderam seu Pai. A crise nos ultrapassa. O que se pede de nós, parece-nos excessivo, fora do alcance. Para nós é difícil perseverar com ânimo numa tarefa sem vislumbrar nenhum êxito. Sentimo-nos sós e cada um se defende como pode. perseverar com ânimo
“Que nós estejamos em crise, não significa que Deus esteja em crise. Que nós cristãos estejamos perden-do o ânimo, não quer dizer que Deus tenha ficado sem forças para salvar. Que nós não saibamos dialogar com o homem de hoje, não significa que Deus já não encontra caminhos para falar ao coração de cada pessoa. Que as pessoas abandonem nossas Igrejas, não quer dizer que elas escapem das mãos protetoras de Deus. “Meu Pai, que me deu as ovelhas, supera a todos e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” DEUS CONTINUA SENDO DEUS. Ter uma atitude de confiança e de docilidade! Creio em ti, Senhor! Faz de mim o que quiseres!
O pastor, então, simboliza o chefe que governa e dirige o povo. Sua principal tarefa é vigiar, guiar e proteger o rebanho. Quando os primeiros cristãos falam de Jesus como “Bom Pastor”, não o fazem, porém, para apresentá-lo como chefe e comandante de um povo, mas para destacar sua preocupação pela vida das pessoas. Jesus é “Bom Pastor” não porque saiba governar, conduzir e vigiar melhor do que ninguém, mas porque é capaz de “dar sua vida“ pelos outros.
A bela imagem de Jesus como “Bom Pastor” enraizou-se bem nos primeiros séculos do cristianismo, pois sugere o cuidado de Cristo pelos seus, seu serviço e entrega total, sua disponibilidade para dar a vida pelas ovelhas. E nós? Como tem sido o nosso cuidado com os nossos irmãos? Estamos a serviço do anúncio da boa notícia? Como tem sido a nossa entrega e disponibilidade? Que tipo de sim estamos dando?
A Cruz
A Cruz em Comboni teve um lugar especial no seu caminho espiritual até aos últimos momentos da sua vida. A Cruz foi para ele uma parte integrante da missão. A sua vida e os Escritos revelam uma profunda compreensão do valor salvífico da paixão de Cristo. A sua relação esponsal com a Cruz foi intimamente ligada à sua fidelidade ao empenho missionário, uma vida vivida ao serviço dos outros, revelando uma clara compreensão daquilo que o mistério pascal teve no ministério de Cristo.
A paixão de Cristo é antes de mais uma história de fidelidade de Jesus à missão recebida e o seu determinado confiar-se à vontade do Pai que o tinha enviado. «Meu Pai», tinha dito, «se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres» (Mt 26, 39). Através das narrações da paixão, ficamos a saber que Jesus é um com o Pai não só na vida mas também na morte. As suas palavras sobre a cruz: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23, 46) exprimem a íntima união entre ele e o Pai mesmo naquele momento que, humanamente falando, é o mais trágico da sua vida e da sua morte. Manteve a sua união com o Pai até ao extremo!
A paixão ou a Cruz é também a história da fidelidade de Deus Pai. Isto é admiravelmente expresso pelo primeiro evangelista. Mateus inicia o seu Evangelho com uma longa listagem dos antepassados de Jesus. Nesta listagem há todavia algo a que damos pouca importância, e que no entanto nos ajuda a lançar luz sobre o significado e sobre a beleza da paixão e da Cruz na vida de cada fiel. Naquela passagem da genealogia de Jesus, é mencionado por quatro vezes o triste período do exílio na Babilónia, uma experiência dolorosa e inesquecível. Aquele período do cativeiro babilónio permanece para o povo de Israel um dos momentos da sua descontinuidade enquanto nação e enquanto povo. Mas marcou também, na sua história, um dos momentos mais belos da presença da mão de Deus que os guiava na sua vida. Do mesmo modo, para um missionário, ou melhor, para todo o crente, a Cruz que aparentemente parece ser um fracasso, um escândalo, como diz São Paulo (1Cor 1, 23), um fim, uma total descontinuidade da missão, torna-se ocasião para uma vida nova e incrível. Um momento para uma mais profunda compreensão daquilo que realmente Jesus era:
«Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!» (Mc 15, 39). Para Comboni, a Cruz foi a ocasião para reconhecer a presença salvífica de Deus na sua obra, a proximidade divina mesmo nos momentos mais escuros do seu ministério, um momento para um novo início, a disponibilidade a oferecer mil vidas pela missão.
A Cruz deve ser vista também em todo o contexto da missão de Jesus, que foi um drama da luta contra os poderes do mal e com a vitória final da bondade divina. Os Evangelhos mostram claramente tudo isto nas suas narrações de curas, de exorcismos, de perdão dos pecados, de regresso da morte à vida, do alimento dado à multidão que tinha fome. Isto sublinha a realidade da missão de todos os tempos e épocas, ou seja, a Cruz é uma consequência inevitável da missão. E isto recorda-nos a convicção de Comboni que, após anos de árduo trabalho e de relações difíceis na missão, podia com certeza reconhecer que as grandes obras de Deus nascem e crescem aos pés da Cruz.
É através da Cruz que compreendemos a realidade profunda da chamada missionária a perder a própria vida pelos outros, a ser servidores de todos, a servir em vez de ser servidos; uma vida vivida profundamente até ao extremo pelos outros, uma doação total de si. Toda a vida de Jesus foi um constante e incansável esforço por libertar vidas humanas das garras dos poderes do mal, ensinando a verdade que liberta e protege os fracos. Toca os intocáveis, quebrando as barreiras legalistas e estabelecendo novas ordens sociais. A sua Cruz nasceu, pois, da sua missão pública. É na luz do seu ministério que a sua morte está profundamente radicada e é na cruz que as obras de amor encontram o seu cumprimento: «Tudo está consumado!» (Jo 19, 30).
Pe. J. I., mccj