
Eu vi um novo Céu e uma nova Terra, Evangelho de hoje
“EU VI UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA” (Ap 21,1-5)
1. A Esperança como Horizonte
A história não caminha para o fim. Não está destinada a se precipitar no báratro do nada, a ser enterrada definitivamente no silêncio da insignificância ou cancelada por uma deflagração. Apesar das situações absurdas que vivenciamos no dia a dia, a vida tem sentido. Tem valor e vale a pena ser vivida intensamente. Tem uma finalidade. Marcha rumo à plenitude. A história tem como desfecho final a realização plena do Reino de Deus que já começou entre nós.

A visão da Nova Jerusalém, descrita no livro do Apocalipse (21,1-5), é a prefiguração do mundo novo que tanto sonhamos. Esse é o epílogo da história que está na cabeça de Deus e de todos aqueles e aquelas que permanecem fiéis a Ele. A violência, a dor e as injustiças, apesar do estrago que estão fazendo, têm os dias contados. A última palavra é de Deus e da comunidade que assume o seu sonho. Seu projeto de vida prevalecerá sobre a lógica da morte. A humanidade, resgatada por Deus, vai viver para sempre. Portanto, a nossa esperança não é um devaneio, mas é um dato de fato que tem como fundamento as promessas de Deus e se respalda na palavra dada pelo próprio Jesus: “Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33).
2. Resistência na Noite e na Dor
Todavia, não podemos esquecer que “é preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). “Per crucem ad lucem”. O caminho que nos leva à luz passa pela dura experiência da cruz. Para alcançar as estrelas, diziam os antigos, precisamos passar pelas provações da vida. Algumas vêm de fora. São as perseguições de quem não aceita o Evangelho. Outras surgem dos cortes na própria carne daquilo que atrapalha a entrada no Reino. Todas doem demais. A vontade de largar tudo é grande. O cansaço e, sobretudo, a sensação de impotência colocam à dura prova nossa fé, resistência e perseverança. Parece sempre noite. O novo dia tarda demais a aparecer. A reserva de óleo vai se esgotando e a lâmpada da esperança vai se apagando. Como escreveu Marie Noel, poetisa francesa, tem hora que Deus é tudo e hora que não é nada. Tem momentos em que estamos cheios de entusiasmo e momentos em que nos sentimos trapos desgastados. Deus, porém, não joga fora nada. É essa a conclusão de Marie Noel em seu diário secreto: «“Estou aqui, meu Deus, procuravas-me? Que queres fazer de mim? Não tenho nada para te dar. Desde o nosso último encontro não pus nada de parte para ti: Nada, nem sequer uma boa ação ou uma boa palavra. Estava demasiado triste. Nada, a não ser o desgosto de viver, o fastio, a esterilidade”. Cristo disse-me: “Dá-me as tuas misérias!”. E eu: “Senhor, mas então Tu, como um trapeiro, catas todos os refugos. O que queres fazer deles?” E o Senhor respondeu: “O reino dos céus!”.»
Não tenhamos vergonha, portanto, das nossas dúvidas, fracassos e decepções. Deus é capaz de reciclar tudo, até as crises de fé e os momentos de desesperanças. Com os nossos trapos Ele produz enfeites e confecciona o vestido de noiva com o qual vai nos conduzir ao altar das Bodas do Cordeiro para celebrar a Aliança que dá vida ao mundo novo. Maranata! Vem logo, Senhor Jesus.
pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano