Quando conheci a Congregação dos Missionários Combonianos, tinha 26 anos. Depois de um caminho de discernimento vocacional de cerca de 4 anos, resolvi entrar no postulantado dos irmãos em Pordenone – Itália. Queria ser missionário como irmão e não como padre, nunca me passou pela cabeça de ser padre, mas queria dedicar minha vida inteira para o serviço missionário, isto é, queria ser um missionário leigo vivendo numa comunidade religiosa consagrando minha vida através dos votos de pobreza, castidade e obediência. Nos Missionários Combonianos existem padres e irmãos vivendo e trabalhando juntos. O irmão missionário evangeliza através do trabalho de promoção humana, isto é, mais no campo social, enquanto o padre faz mais um trabalho de pastoral paroquial.
As vezes as coisas se misturam no sentido de que tem padres que são empenhados em trabalhos sociais e irmãos que gostam de pastoral, mas de maneira geral encontramos o irmão em trabalhos de promoção humana. Cheguei ao Brasil com 36 anos e trabalhei na Pastoral Operária na região da Grande Vitória / ES, trabalhei também nos Direitos Humanos e no movimento Fé e Política. Depois de 10 anos me pediram um serviço na Itália, onde fiquei trabalhando na animação missionária durante 5 anos.
Voltei ao Brasil no ano 2000, na mesma região de Vitória. Retomei o trabalho na Pastoral Operária com um enfoque na criação de cooperativas de Economia Solidária. Desde 2007 estou em Santa Rita, cidade da periferia de João Pessoa na Paraíba. Comecei um trabalho com os catadores, pessoas humildes e completamente excluídas pela sociedade. Em 2002, em sintonia com a minha comunidade, decidi de me tornar um vizinho dos catadores, deixei a comodidade da casa paroquial e fui morar em Marcos Moura, o bairro mais pobre e violento da cidade, no meio dos catadores, numa casa parecida com a deles, assumindo todos os desafios daqueles moradores. Morar em Marcos Moura é uma experiência mística, que me ajuda a descobrir e viver Jesus de Nazaré entre os últimos, num caminho de conversão.
Os catadores começaram uma caminhada e fizeram uma experiência de solidariedade e partilha que os levou a criar a Cooperativa de Catadores de Reciclagem de Marcos Moura, a COOREMM. Hoje, depois de 9 anos de caminhada e 5 de trabalho em cooperativa, os catadores conquistaram a estima e o respeito da população, a farda que usam é um sinal de um grupo organizado que desenvolve um serviço precioso para a sociedade e o meio ambiente, adquiriram autoestima e a consciência de ser cidadãos com deveres e direitos e por isso querem respeito. A COOREMM é um grupo alegre, solidário, rico de fé e esperança no futuro.
Esta experiência ensina que a partir dos descartados pela sociedade pode nascer uma nova história carregada de esperança. A certeza do amanhã, o pão de cada dia, a alegria de redescobrir-nos irmãos, de sentir-nos mais humanos, mais à imagem de Deus.
Irmão Francisco D’Aiuto – Chico, comboniano