
Faça Deus Feliz!
“Que vos parece?”. Jesus nos interpela com esta pergunta a queima roupa. Pede nosso ponto de vista a respeito de uma situação em que deseja nos envolver. Questiona para ver se temos as ideias claras a respeito de Deus. Sua provocação serve para nos ajudar a tirar a máscara que colocamos no rosto do Pai para esconder sua verdadeira identidade e desvirtuar a nossa. “Se um homem tem cem ovelhas e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu?” (Mt 18,12-24). Numa economia prudente que calcula bem os riscos, não valeria pena. Ao abandonar as noventa e nove ovelhas para ir atrás daquela perdida o dano poderia ser ainda maior. Na sua ausência outras ovelhas ficariam expostas ao perigo de sumirem.
Jesus não espera a resposta. Ele já fez as contas com a misericórdia do Pai. Já tomou a Sua decisão: vai atrás até encontrá-la e, sem tantos rodeios, expressa seu ponto de vista com o tom solene de quem está pronunciando uma verdade dogmática: “Em verdade vos digo, se ele a encontrar ficará mais feliz com ela do que com as noventa e nove que não se perderam”. Para Deus a alegria de encontrar a ovelha pedida vale o risco. Atrás desta postura aparentemente paradoxal tem uma forte motivação: o amor misericordioso que não desiste nunca. Cada ovelha é preciosa a seus olhos. Quando perdemos alguma coisa que nos interessa e é cara para nós, ficamos muito tristes. Saímos à sua procura como doidos à custa de largar tudo e todos. O tamanho de nossa ânsia de achá-la revela quanto valor tem para nós. O sofrimento pela falta aponta quanto somos afetivamente ligados a ela. Se logramos encontrá-la a nossa alegria se torna grande. Chegamos a fazer festa. O reencontro se torna um evento. É à luz deste forte sentimento de pertencimento que se explica a escolha louca de Deus. Quando alguém de nós se perde, Ele não se segura mais. Sai como um doído à nossa procura porque todos/as lhe somos caros/as. Somos preciosos/as a seus olhos. Está disposto a tudo para não nos perder. Somos nós que nem sempre nos deixamos encontrar. Ficamos bem escondidos/as na escuridão das trevas por medo de sair ao descoberto e que Sua luz nos ponha diante de nossa verdade. Na realidade, esse temor não tem razão de existir. Deus não constrange ninguém. O reencontro não é marcado pela bronca ou pela condenação, mas pela festa.
A natureza de Deus, retratada na figura desse pastor cuidadoso, nos faz felizes. É bom saber que Ele é assim e não como nós o inventamos quando o transformamos num juiz implacável para justificar nossa sede de vingança. Ele cuida de nós também quando desviamos do seu caminho e nunca nos perde de vista. Mas, ao mesmo tempo, é uma imagem que nos questiona como pessoas e como pastorais. Se não sentimos a “ânsia de misericórdia” do Pastor, se não saímos como doidos atrás das pessoas que estão perdidas pelas ruas tortuosas destes mundo afora e as abandonamos a si mesmas deixando que se estripem em seus erros significa que suas vidas não são preciosas aos nossos olhos e elas não nos são caras. A felicidade de Deus não é ficarmos o tempo todo no templo cuidando d’Ele, bajulando-o com nossas cerimônias ou fazendo-lhe justiça condenando quem infringe seus preceitos, mas é sair com Ele para a rua para exercer Sua misericórdia. Ele pede insistentemente que O ajudemos a trazer de volta para casa quem se perdeu no meio do caminho. “O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum destes pequeninos”. Só assim o fazemos feliz. Então, “Que vos parece desse Deus?” ou melhor “Com que Deus nós queremos parecer?”. A pergunta inicial exige uma resposta existencial.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)