
Falar de Deus exige experiência de Deus com o Povo
A missão nos chama às mais diversas realidades, e hoje compartilho uma experiência de missão com os indígenas na selva central do Peru. Passamos dois meses lá, realizando atividades como férias úteis, celebrações litúrgicas e convivendo com as famílias. O primeiro passo foi nos apresentarmos ao chefe do povo Nomatsigenga, explicarmos o motivo de nossa presença e nossos planos de trabalho. Fomos recebidos com alegria e entusiasmo tanto de nossa parte quanto do chefe do povo, que nos acolheu com muita alegria.
Nessas comunidades, durante as férias, ocorrem as “férias úteis”, onde são oferecidos cursos para fortalecer o aprendizado dos alunos, que é bastante fraco nessas situações. Nosso trabalho não se limitou ao ensino de espanhol e matemática; as crianças foram uma porta de entrada para conhecer a cultura, o idioma e o modo de vida. Rapidamente começamos a usar algumas palavras em Nomatsigenga e conseguimos nos comunicar com as crianças e suas famílias. As aulas diárias de duas horas nos ajudaram a manter contato constante, identificando desafios na aprendizagem. Muitas crianças ajudam seus pais nas plantações, indo à escola pela manhã e trabalhando à tarde.
Nos reuníamos na capela da comunidade, dedicada a Santa Teresinha, para compartilhar a Palavra de Deus. Falar de Deus nessas realidades exige viver com eles, conhecer sua vida, costumes e culturas. Pude aplicar todo o aprendizado adquirido nos cursos de Filosofia e Teologia, encarnando o conhecimento na realidade desse povo. Não se trata apenas de transmitir uma grande quantidade de informações sobre Deus. É necessário encarnar esse Deus na realidade desse povo, fazer com que todo o conhecimento se torne prática, tornar-se um encontro com Deus. Para isso, é essencial sensibilidade, amor e o desejo de falar de Deus para eles. Um missionário deve ter a sensibilidade de falar de Deus nas diferentes realidades que enfrenta, não apenas com um anúncio frio e teológico, mas encarnado na realidade das pessoas. Isso me lembra o exemplo de Comboni: “Salvar a África por meio da África”.
Durante o período das chuvas, nosso serviço muitas vezes consistia em estar com as pessoas, ouvi-las, viver com elas, ir às suas plantações, comer sua comida, literalmente comungar de suas vidas. Para mim, esta é uma forma de encontrar Deus. Era gratificante quando, pela manhã, uma criança trazia mandioca cozida com sal para nosso café da manhã. À noite, os homens voltavam da caça e compartilhavam conosco o que traziam para suas numerosas famílias.
Estou seguro de que a experiência com esses povos indígenas do Peru me aproximou de Deus, me fez encontrá-Lo de diversas formas, pude escutar Sua voz, Seu grito em vários momentos. Encorajo você, que está lendo este testemunho, a ser também um missionário. A missão é uma das formas mais nobres de encontrar Deus e contribuir para a construção do Reino anunciado por Jesus Cristo. Escolhi o Instituto dos Missionários Combonianos para atender a este chamado de construir o Reino de Deus. Sou feliz e muito realizado por fazer parte desta família missionária.
Alex Geraldo Nunes