Fiéis até o Fim
“Vidas pela Vida, vidas pelo Reino. Todas as nossas vidas, com as Suas Vidas, como a vida Dele, o mártir Jesus.” Este mantra consegue evocar de forma singela a espiritualidade da vida doada até às últimas consequências. Aos olhos da fé em Jesus Ressuscitado, as testemunhas são grãos de trigo que se tornam semente de vida renovada para povos e comunidades.
Na noite de 6 de setembro de 2022, a família comboniana se deparou com a trágica morte da irmã Maria de Coppi, comboniana italiana de 83 anos, em Moçambique desde 1963. A missão de Chipene, no norte do país, foi alvo de um ataque terrorista. Desde 2017, se arrasta uma guerra na região, devida à disputa pelos recursos minerais, com reivindicações de grupos islâmicos. Além disso, também os estragos do tufão e da seca vieram fragilizar ainda mais a vida do povo.
A Ir. Maria tinha dedicado toda sua vida ao acompanhamento pastoral das comunidades, com foco nos catequistas e nas mulheres. Devido à idade, ela já não visitava as capelas do interior, mas estava sempre disponível para escutar quem a procurava: “a escuta dos outros é o dom maior – dizia ela – significa reconhecer a dignidade das pessoas”.
Já tinha sido testemunha dos horrores da guerra da independência e da guerra civil. Quero recordar sua grande alegria pelos acordos de paz em 1992: “a guerra acabou… Parecia-nos sonhar. As mulheres prepararam pãezinhos para oferecê-los… alguns soldados foram comprar feijão para dar aos rebeldes. Todos se abraçaram…. dançamos de alegria, dançamos a paz. Que bonita a paz”. Mas a paz é um bem tão precioso, quanto frágil, e desta vez, Maria fez causa comum com o povo que morre devido ao ódio, injustiças, e ao interesse dos poderosos.
O seu corpo repousa no cemitério de Carapira, junto da irmã Luísa Manuel, que, junto com irmã Giusy Lupo, faleceu num acidente na Transamazônica no dia 24 de junho de 2017. Luísa havia recentemente voltado ao Brasil, depois de alguns anos em seu país, Moçambique. Em Salvador, Bahia, havia passado os primeiros dez anos de vida e missão no Brasil, deixando saudades no coração de muitos. Pessoalmente, lembro muito bem da chegada dela na região amazônica, a ilusão de abraçar essa nova missão, o desejo de conhecer, de se inserir, e se doar. Para Giusy era a primeira experiência, olhos brilhantes, mãos e pés rápidos, para ir ao encontro, sorrir, estar com as pessoas, tocar o violão. Giusy e Luísa trabalhavam muito bem juntas. Vê-las era, para mim, um bonito testemunho de vida cristã.
Receber a notícia daquele acidente foi um choque muito grande… Seis anos depois, porém, posso afirmar que o tempo não cancela nem a saudade delas, nem o amor e o bem que espalharam com generosidade evangélica. Quem vive em Jesus não morre mais.
Ir. Chiara Dusi, comboniana na Itália