Fim de ano: momento de retrospectivas e de planos
Para muita gente o fim do ano é sempre cercado de muitas alegrias, festas e planos. Não é por menos, estamos no final de todo um ano de rotinas, desafios, boletos para pagar e dificuldades diversas. Quando olhamos pelos dias vividos, nos deparamos com aquelas contas que nos parecia impossíveis de serem quitadas e aí veio um dinheiro inesperado e salvou o momento. Depois, vem os problemas em família, de saúde, com os vizinhos, enfim, coisas da vida que nos fazem agitar o sangue e nos empurram para o fim do ano.
E aqui estamos. A agenda já tem compromissos assumidos para 2024. Também já temos boletos para pagar já nos primeiros dias do novo ano. E ano novo traz consigo os auspícios. Sim. Queremos sempre que este ano que se inicia seja melhor que o que já foi. Que possamos crescer profissionalmente e assim, ganhar mais dinheiro. Que aquele projeto engavetado vire realidade, como num passe de mágica. Todas as viagens desejadas e planejadas aconteçam de fato. Enfim, temos em mente somente coisas boas.
Tem aqueles que pulam ondas (claro, onde tem ondas), os que guardam sementes na carteira, que escolhe uma roupa nova, vale tudo para acreditar que estamos fazendo a nossa parte para que o novo ano seja do jeito que a gente quer. Com muitos momentos instagramáveis (não podemos esquecer daquelas fotos para fazer inveja no Instagram), com muitas selfies ao lado daquela gente que nem gostamos tanto assim e, é claro, com o carro novo, sim, aquele que vem acompanhado de um carnê que irá nos acompanhar nos próximos três réveillon e adiante.
Mas chega um momento que tudo isso vira fumaça. É quando colocamos a cabeça no travesseiro e nos cobramos. Nos cobramos ser uma pessoa com menos vaidade e mais simplicidade. Quando lembramos de todas as roupas compradas ao longo do ano e que não fomos capazes de doar para quem nos pediu uma roupa usada. Quanta comida jogada no lixo e quantas vezes eu disse que não tinha nada para aquelas pessoas que me pediram e eu não quis ter trabalho. Sim. Tudo isso nos parece tão banal. Roupa usada vai para o lixo junto com o alimento que venceu a validade, junto com o jantar de ontem que sobrou e ninguém vai querer comer novamente no almoço.
Não são muitos os momentos que nossa mente nos trai e nos faz pensar em coisas que a gente nem gosta de pensar. Mas nossa consciência está também no fim de um ano e já vislumbrando o início de um novo ciclo. A oportunidade única de nos mostrar que somos capazes de aprender mais, de fazer mais, de sermos mais na vida do outro. Aprendemos, desde muito cedo, que temos que pensar primeiro em mim, colocar o mim no centro do que eu faço, no centro do meu mundo. O mim é o mais importante. Mas a vida nos revela que os nossos melhores momentos na vida foram vividos com o nós. Quando percorremos as milhares de fotos que produzimos ao longo de todo este ano, foi junto de pessoas que vivemos os nossos melhores dias. Não foram as coisas, mas as pessoas, que nos permitiram viver momentos inesquecíveis. Reconhecer o outro, ver o outro e ser empático com o outro nos torna mais humano, nos faz instrumento do sagrado na vida destes. Ficamos alegres com os presentes que ganhamos, até descobrirmos a alegria que nos atinge quando somos nós que presenteamos a quem precisa com o que ele precisa.
Que este ano que termina tenha nos ajudado a aprender, para que no próximo ano, sejam capazes de fazer. A favor de quem precisa e descobrir o quanto somos capazes de fazer, muito mais do que imaginamos e muito mais que acreditamos. Feliz novo ano de realizações para nós e para quem precisa de nós.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano