Fome de Deus: Sim! – Fome de pão: Não!
“Fome de Deus: Sim! – Fome de pão: Não!”, gritou São João Paulo II ao concluir seu discurso sobre o Evangelho da partilha dos pães e dos peixes, proferido perante uma multidão de cerca de um milhão de pessoas empobrecidas em Villa El Salvador, nos arredores de Lima (Peru). Sentir fome e sede de Deus é uma dimensão vital. Bem-aventurado aquele que tem fome e sede da Palavra de Deus, que é fonte permanente de vida plena. Mas a fome de pão é desumana. Ela mata. Deixar o povo morrer por falta de comida é uma aberração, um pecado mortal que indigna Deus e que deve nos deixar extremamente envergonhados. A fome no mundo, causada não por falta de alimentos, mas pela voracidade de uma pequena parte da humanidade, é sinal de que não levamos a sério a Eucaristia. “A Eucaristia”, diz o Papa Francisco, “extingue em nós a fome das coisas e acende o desejo de servir. Ela nos levanta de nosso confortável estilo de vida sedentário, nos lembra que não somos apenas bocas para alimentar, mas também somos suas mãos para alimentar os outros. É urgente agora cuidar daqueles que têm fome de comida e dignidade, daqueles que não conseguem trabalho e lutam para seguir em frente. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá. Precisamos de uma verdadeira proximidade, precisamos de verdadeiras correntes de solidariedade. Jesus eucarístico faz-se próximo de nós: não deixemos sozinhos aqueles que estão próximos de nós!” Mas isso não basta. O ser humano não vive só de pão material, mas também de beleza, verdade, dignidade, afetividade, alegria… Deus colocou em cada um de nós a vontade de “ser mais”, o desejo de plenitude, a fome de completude que continuamente nos devora e que só a vida que brota d’Ele pode satisfazer. Somos insaciáveis de felicidade. Sempre a caminho em busca da realização. A nossa plenitude, porém, só é alcançável assimilando a Vida de Jesus e vivendo sua paixão pelo Reino de Deus. Ele é o Pão da Vida Eterna que, não é uma vida feita de coisas extraordinárias, mas que se faz dom de si, partilha e serviço. É isso que faz feliz a nossa vida. Jesus viveu tudo isso. Portanto, dando-nos a si mesmo, nos dá tudo o que precisamos para sentirmos desde já o gosto da Vida do Eterno. (Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)