Fraternidade e Amizade Social
Todos queremos uma sociedade diferente, onde a justiça social marque todo o relacionamento humano. No entanto, a vida fica cada vez mais difícil, especialmente, para os empobrecidos: desnutrição, doença, violência, corrupção, atentados contra a democracia tem marcado a sociedade de hoje. Enquanto isso, a inflação monstra seu rosto cruel, que desafia o poder aquisitivo do salário de quem o tem. Há energias latentes no coração do povo, que podem eclodir em explosão caótica, mas, também, em dinamismo positivo e transformador da estrutura da sociedade. Ponto principal da transformação social é o reconhecimento da dignidade da pessoa humana.
Se por um lado a grandeza do homem está ligado à sua filiação divina, por outro, é preciso assegurar-lhe, já nesta vida, condições de vida, condizente com a sua dignidade de filho de Deus. Todos aspiramos a ter uma sociedade, que supere divisões, preconceitos, radicalismos e ideologias, que não promovem a dignidade da pessoa humana, como o capitalismo desenfreado, o fascismo e o comunismo. Sonhamos com uma nova ordem social, humanista e solidária, que, além de não excluir ninguém, tem como centro a defesa e promoção dos direitos fundamentais da pessoa humana – consignados na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, na ONU, em 10 de dezembro de 1948 – e o direito dos povos à independência.
No DNA de todo ser humano, Deus colocou sementes de justiça, fraternidade e reconciliação; de promover o desenvolvimento individual e social; de participar dos frutos do progresso e da cultura, sobretudo, de se engajar na vida política, para que cresça, em nosso convívio, a “fraternidade e a amizade social” (CF ´24), que proporcione, também, a todos os que se encontram na impossibilidade de trabalhar, – ou por doenças, ou por habitar em regiões pobres – um sustento adequado.
“Uma análise de conjuntura” – último documento, publicado pela CNBB, em vista do bem do Brasil – realça: 1 – Defesa intransigente das instituições democráticas. 2 – Ampliação das políticas públicas de amparo aos mais vulneráveis. 3 – Fortalecimento das pequenas e médias empresas e negócios familiares. 4 – Universalização dos serviços públicos essenciais, como saúde e instrução. 5 – Tributação sobre grandes fortunas. 6 – Apoio à ciência e à pesquisa científica. 7 – Prioridade às cooperativas, que produzem alimentos. 8 – Defesa da Casa Comum e preservação da Amazônia. 9 – Justiça, rápida e eficiente. 10 – Integração social e política do Brasil com outros povos da América Latina.
“A opção preferencial pelos pobres” – característica da espiritualidade da Igreja latino-americana – deve inspirar, também, – afirma o documento – o Estado democrático, na sua legislação e nos seus programas: reorganizar a sociedade, que tenha como centro a dignidade inalienável de toda pessoa humana; valorização dos deficientes físicos, idosos, mulheres, crianças, empobrecidos, índios e negros; recuperação dos drogados e dos moradores de rua; combater a corrupção e as falsas notícias, pois corrompem a vida de um povo; superação das gritantes desigualdades sociais, tão profundamente enraizadas em nossa sociedade, implementando a reforma agrária, justa e participada; doar a todos a alegria de viver, de amar e de fazer o bem, sem ódio e sem armas, sem cercas e sem exclusão, sem oprimidos, nem opressores.
Padre Ernesto, MCCJ