
Imperativo de Consciência, Moçambique 51 anos depois
Documento pela Paz e a Liberdade
No próximo dia 12 de fevereiro se completará o quinquagésimo primeiro aniversário de um documento fundamental para a história da Igreja Católica em Moçambique, intitulado, ” Um Imperativo de Consciência.”

Esse documento expressava os anseios de muitos missionários, especialmente dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus e do bispo de Nampula, Dom Manuel Vieira Pinto, que reconheciam que o jugo colonial era anti-cristão e contrário à liberdade do povo moçambicano. Liberdade essa que também era o objetivo da luta dos movimentos políticos, que em torno da figura de Samora Machel e da nascente FRELIMO, os quais, juntamente com outros agentes e movimentos, estiveram à frente da grande luta anticolonial, que viria finalmente a culminar na independência nacional, no dia 25 de junho de 1975.

Isso custou aos missionários que assinaram o documento e ao bispo, a delação feita por religiosos consagrados ligados ao colonialismo português e por conta disso, sofreram a expulsão e Dom Manuel Vieira Pinto foi considerado traidor da pátria.
Tanto o bispo quanto os missionários puderam retornar a Nampula, após a independência e aos movimentos políticos e civis que levaram ao fim da longa ditadura que governava Portugal, em 25 de abril de 1974.
Crise com mais de 50 Anos
Cinquenta e um anos depois, Mocambique atravessa uma das maiores crises políticas e institucionais, em função das acusações de fraude no último processo eleitoral, além da insatisfação de uma parte da significativa da atual FRELIMO, que desde os anos 90 do século XIX não é mais socialista. De fato, aderiu à economia de mercado e vem se vendo bastante enfraquecida com a guerra que se arrasta há quase 10 anos em Cabo Delgado e com uma série de questionamentos políticos e sociais, ocasionados por escândalos de corrupção, perseguição política e por acusações de violações dos direitos civis.
Em 27 de novembro passado, tive a chance de entrevistar o Padre Manuel Horta, missionário comboniano, atualmente residente na casa da Congregação em Famalicão (Portugal), que teve o singular papel de ser o redator do documento O Imperativo de Consciência.
O áudio com a entrevista exclusiva para a Revista Sem Fronteiras e para os Combonianos e suas comunidades, paróquias e leigos no Brasil segue abaixo.
Na atual conjuntura de Moçambique, essa entrevista é um convite à Democracia, ao fim das violações e um convite para uma conexão com os ideais de liberdade que foram e ainda são tão caros, aos moçambicanos.
Entrevista em Áudio
Segue a entrevista em duas partes.
Que o aprendizado da liberdade e da autonomia vivenciado pelo Padre Manuel nos motive para um recriar das nossas relações com o mundo e que seja um apelo em favor da Paz em Moçambique.
Patrícia Mutanu Teixeira Santos,
Professora de História da África da UNIFESP e do Programa de Pós Graduação em História da UFAM. Pesquisadora do CITCEM UP (Portugal) e do CREDIC (França)