Jesus e o Preconceito dos Seus
Até Jesus foi vítima de preconceito. Aconteceu no vilarejo onde nasceu pela boca de seus familiares e conterrâneos. Tudo nasceu de uma ideia distorcida de Deus. Associado a poder, prestígio e grandeza, Deus não podia ser assim como o revelava Jesus de Nazaré. Os nazarenos não podiam acreditar que aquele filho do carpinteiro, cujo nome nem sequer é citado, tamanha fosse ruim a sua fama, e de Maria pudesse ser o Messias, o enviado por Deus para resgatar o povo eleito. Deus é grande demais para se rebaixar e falar através de um homem tão simples e de origens tão humildes!
Mas é justamente esta a Boa Notícia de Jesus. Deus tem rosto de um ser humano. O Verbo prende forma num corpo frágil. Tem origens humildes e semblante “familiar”. É o escândalo da Encarnação. A humanidade de Jesus desconcerta os “religiosos preconceituosos”. Para a mentalidade da “aldeia”, é desconcertante o acontecimento de um Deus feito carne, que pensa com uma mente humana, trabalha e age com mãos humanas, ama com um coração humano, trabalha, come e dorme como um de nós. Escandaliza um Deus que não deve ser procurado nas alturas do Céu, mas pelas estradas do mundo, ao lado dos pobres e sofredores com um vidro de azeite para sarar as nossas feridas, sentado à mesa com pecadores, ajoelhado aos nossos pés com um jarro de água e uma toalha para colocar-se ao nosso serviço.
É esse o motivo de escândalo e descrença não só naquela época, mas em todas as épocas, até os nossos tempos. Nunca Jesus de Nazaré foi tão hostilizado como no dia de hoje justamente porque fala de um “Deus diferente”, outro a respeito de todos os esquemas elaborados e divulgados por religiosos que O usam para fazer seus interesses. O Deus de Jesus de Nazaré é surpreendente. Gosta de surpresas. Como diz o Pe. Luigi M. Epicoco, “é Aquele que traz novidades onde achamos que não há de novo. Ele adora se esconder nas coisas normais, nos eventos do dia a dia, naquelas realidades que você acha que sabe de cor e por isso não olha mais. A lógica da Encarnação é a escolha da normalidade e da cotidianidade como o lugar principal onde Deus se manifesta e onde nós somos chamados a viver a santidade. O cristianismo quase nunca é a história de super-heróis, mas a história de pessoas normais que vivem seu pedacinho de vida extraordinariamente”.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)