Jesus paga o Preço da nossa Liberdade
O clima entre os discípulos é de muita tristeza. Na Galileia, Jesus acaba de dizer que Ele vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, mas no terceiro dia ele ressuscitará (Mt 17,22-23). O Pai quer salvar a humanidade a qualquer custa. Jesus vai pagar o preço do nosso resgate com sua própria vida, de maneira que de estranhos/as nos viremos filhos/as e de escravos/as nos tornemos livres. No entanto, os cobradores do imposto do templo abordam Pedro na cidade de Cafarnaum para perguntar-lhe se o Mestre paga esta taxa. É uma preocupação absurda. Há um abismo entre a generosidade de Deus que dá a vida e a mesquinharia das cobranças humanas. Eles sabem que Jesus não está pagando. Afinal têm o controle rigoroso de todos os contribuintes. Procuram um pretexto para constrangê-lo e criminalizá-lo. É a mesma técnica perversa de sempre. Os que se sentem incomodados com o Evangelho, caçam pretexto para desqualificar aqueles/as que o anunciam. Pedro mente para proteger a honra de Jesus. Nem desconfia que aquele questionamento vai ser a oportunidade para Jesus revelar a sua e a nossa identidade. O imposto do templo não era obrigatório. Não estava previsto na Lei. Os Saduceus o questionavam, pois afirmavam que só podiam ser exigidos os impostos previstos na Torá. Além do mais, como lembra Jesus, naquela época os impostos eram um sinal de dominação. Eram cobrados dos povos estrangeiros conquistados, nunca dos “filhos” que eram os nobres e os cidadãos legítimos. Portanto, seguindo este raciocínio, Jesus não tem a obrigação de pagar o imposto do templo, pois Ele é o Filho do Rei. O Senhor do templo é Deus. Jesus é seu Filho. Esta isenção se estende a todos seus discípulos e suas discípulas. Os/as que acreditam em Jesus participam desta filiação e, como filhos/a no Filho, não são mais escravos/as, mas livres. Na comunidade cristã, Deus não cobra. O único que paga que conta é Ele. Ninguém de nós poderia resgatar a própria vida e conquistar a própria liberdade. O único que pode fazer isso é Deus que com seu sangue, doando sua vida, bem mais preciosa do que a moeda de prata paga ao templo, nos torna livres de verdade. A nossa liberdade, portanto, custa caro. Tem o preço do amor incondicionado de Deus. Acontece só se for para o Bem e só amando à maneira de Deus. Como dizia Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”. Só o amor nos torna livres e felizes. Regras sem amor não melhoram a vida, mas a infernizam. Só geram imaturos, dominadores e dominados, vitimados e vitimizadores, expertos, trambiqueiros, corruptos, transgressores e frustrados. Por ser tão cara, a liberdade não pode ser confundida com libertinagem e anarquia. Jesus, mesmo questionando as estruturas de poder, obedece às regras da sociedade. Manda Pedro pagar o imposto do templo para não escandalizar o povo nem entrar em conflito com as autoridades legalmente constituídas. Se for por amor e não por imposição, convém contribuir financeiramente com a Casa de Deus e da comunidade para sua manutenção e para as atividades de evangelização e promoção humana, contando que haja transparência no uso dos recursos. Mas ninguém ouse afirmar que esta contribuição é uma exigência de Deus para conceder sua benção e sua Graça. Deus não exige nenhum imposto em dinheiro. “Não faz acepção de pessoas nem aceita suborno” (Dt 10,17-18). Pede-nos apenas que o temamos e andemos em seus caminhos; que o amemos e o sirvamos com todo o nosso coração e com nossa alma; que guardemos os seus mandamentos e seus preceitos que Ele nos prescreve para que sejamos felizes (Dt 10,13). Foi assim que viveu São Massimiliano Kolbe, frei franciscano que, no inferno do campo nazista de extermínio de Auschwitz, deu a própria vida para preservar um pai de família. É bom saber que em todas as tramas da vida, mesmo obscuras e dramáticas, sempre houve homens e mulheres que aceitaram o convite de Deus e escreveram, com suas vidas, páginas de fé, caridade e esperança. Aos santos e santas canonizados/as oficialmente pela Igreja, podemos somar as multidões de pessoas que no escondimento, refrescaram a dura jornada da humanidade com o orvalho do amor e da esperança. Que a nossa vida seja mais um capítulo desta bonita história de amor e de liberdade. É dramático constatar que uma parte consistente da humanidade, no lugar de se inspirar em Maximiliano Kolbe, prefere assemelhar-se a Hitler e idolatrar a perversidade nazista que representa. Este é o pior indício do processo de desumanização que ameaça de extinção a raça humana.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)