João é seu nome!
Enquanto o homem/sacerdote Zacarias continua mudo, a mulher Isabel toma a palavra. Agora a autoridade de falar está com ela. A sua disponibilidade à Palavra dá consistência às suas palavras. O “cala boca” a que estava acostumada por ser mulher fica definitivamente arquivado. Torna-se legítima porta-voz da Palavra. Seu primeiro ato é uma transgressão: Aos vizinhos e parentes que, no dia da circuncisão, queriam dar ao menino o nome do pai Zacarias, responde: “Não! Ele vai chamar-se João” (Lc 1,6). A tradição cede espaço à novidade. A Palavra não pode ser aprisionada em nossos esquemas e atrelada a nossos costumes. Tem a energia da liberdade, a riqueza da criatividade e a fragrância da novidade. Gosta de fazer novas todas as coisas e as pessoas por onde passa. É fonte de vida nova.
Isabel é testemunha de tudo isso. A Palavra mudou sua esterilidade em fecundidade. É por isso que enfrenta a tradição para deixar espaço à novidade que a própria Palavra fomenta. O nome da criança não vai ser Zacarias Junior, conforme os costumes da época, mas vai ser João, de acordo com a vontade de Deus. Aquele menino é um “presente” de Deus assim como qualquer criatura que vem ao mundo. Isabel sabe muito bem disso. Vai de contra à visão patriarcal e patrimonialista da maternidade/paternidade. Não quer marcar o filho como propriedade exclusiva do marido e dela, mas acolhê-lo com sua específica identidade e respeitá-lo na sua missão de ser um dom a Deus e à humanidade. O seu é um gesto de liberdade e generosidade, pois reconhece que o filho faz parte de uma história muito maior de seus sonhos (pe. Ermes Ronchi). A quem pretende enquadrar aquela criatura nos hábitos e tradições consolidadas do clã, Isabel lembra que ninguém é dono do mistério de uma existência. A tarefa de cada um de nós é ajudar a descobrir o verdadeiro nome que nos é atribuído e levá-lo a bom termo.
Quando o anjo anuncia o nascimento de João, atribui a este último uma tarefa muito específica, a de “converter o coração dos filhos de Israel ao Senhor e reconduzir os corações dos pais aos filhos” (Lc 1,14-17). Esperávamos o contrário. No entanto, João nos lembra que é o presente que lança uma nova luz sobre o passado, que dá sentido ao que parecia não ter nenhum significado. É o aqui e agora que nos faz entender que verdadeiramente “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus”, mesmo o limite da velhice de Zacarias e da esterilidade de Isabel (pe. Antônio Savone). Boa festa.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)