Judas meu irmão!
Enquanto comiam, Jesus disse:
“Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair”. Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?” (Mt 26,14-25).
As palavras de Jesus pronunciadas a queima roupa durante a ceia pascal criam um clima de constrangimento coletivo. Todos ficam muito tristes e, um por um, começam a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?”. A pergunta intriga.
Quem tem consciência limpa não tem nada a temer. Então, por que todos são tomados pela dúvida de ser o traidor de Jesus? Talvez porque cada um deles tenha algo a esconder. A reação do grupo é uma admissão de culpa. É a confissão de uma fragilidade que acontece com todo mundo. A traição é muito mais comum daquilo que se pense. É companheira inseparável da natureza humana.
Como costuma-se dizer, quem mais quem menos, todos/as mantemos um esqueleto no armário ou temos culpa em cartório. Apesar de todo o nosso empenho e generosa dedicação ao projeto de Jesus, cada um/a de nós contabiliza momentos de cedimento às tentações, traição com Sua pessoa, desvio do seu caminho e afastamento de Seus ensinamentos.
É bom se lembrar disso quando caímos matando em cima de Judas. Quando o processamos sumariamente e o malhamos em praça pública. Judas, por quanto o neguemos, é nosso irmão. Tem tudo a ver conosco. “Não vos envergonheis de assumir esta irmandade– disse num memorável sermão pe. Primo Mazzolari ao comentar este trecho do Evangelho -.
Eu não me envergonho, porque sei quantas vezes traí o Senhor; e acredito que nenhum de vós deve envergonhar-se dele. E ao chamá-lo irmão, estamos na linguagem do Senhor. Quando recebeu o beijo da traição, no Getsémani, o Senhor respondeu-lhe com aquelas palavras que não devemos esquecer: «Amigo, com um beijo trais o Filho do homem!».
Amigo! Esta palavra, que diz a infinita ternura da caridade do Senhor, faça-vos compreender por que neste momento eu o chamei irmão. Jesus dissera no Cenáculo não vos chamarei mais de servos, mas amigos. Os Apóstolos se tornaram os amigos do Senhor: bons ou não, fiéis ou não, generosos ou não, permanecem sempre os amigos de Jesus.
Nós podemos trair a amizade com o Cristo, Mas Ele nunca nos trai. Permanecemos seus amigos mesmo quando não o merecemos, também quando nos revoltamos contra Ele ou quando o negamos. Diante de Seus olhos e dentro de seu coração nós somos sempre os amigos do Senhor”. Deus diga sempre bem de nós.
pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano
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