Levantar o Olhar
Tem hora em que as palavras já não bastam mais para explicar e convencer, sobretudo quando a mente dos interlocutores está ofuscada por preconceitos e não há nenhuma intenção de entender e acolher a Verdade. É o caso dos fariseus. Fazem perguntas para Jesus, mas não estão nem aí com as Suas respostas. Questionam, mas não se deixam provocar pela Sua Palavra. O jeito é deixar os fatos falarem. É por isso que Jesus, a certa altura, silenciará as palavras e deixará que o Seu amor até às últimas consequências fale por Ele: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou” (Jo 8,28). Somente quando sua vida for doada e seu sangue derramado a luz divina brilhará para todos/as e Sua identidade será plenamente revelada. E quem busca a verdade com um coração sincero a encontrará aos pés da cruz. O primeiro a enxergá-la será o centurião romano que, quando tudo estiver cumprido, exclamará: «Verdadeiramente este era o Filho de Deus!». Isso foi possível porque levantou o olhar para o alto, não para fugir da realidade, mas para se concentrar no essencial, naquilo que é indispensável para viver em plenitude; doar-se para a felicidade dos outros. A grande tentação de hoje é viver sem nunca levantar a cabeça. É andar cabisbaixo, com o olhar concentrado no próprio umbigo, à altura dos próprios interesses ou, pior ainda, ao nível da baixaria, da mediocridade, do egoísmo, da hipocrisia, do vitimismo, da mentira, da violência, da canalhice… Nós somos feitos/as para nos arrastar, mas para andar de cabeça erguida, não por arrogância, mas pela dignidade quem nos pertence por direito natural. Quem vive olhando para baixo o tempo todo, perde de vista o Céu que, como dizia dom Luciano Mendes, “é ver os/as outros/as felizes!”. É no Calvário, levantando os olhos para o Crucificado, que descobrimos quem Deus realmente é. É um Pai/Mãe que morre por amor, disposto a qualquer sacrifício para salvar os/as seus/suas filhos/as. A cruz é a Palavra definitiva sobre a identidade de Deus, de Jesus, seu filho amado e de todos/as nós, criados/as à sua imagem e semelhança. Somos feitos/as do amor, com amor e para amar. Deus se doa, para sempre, totalmente, gratuitamente, sem chantagear, sem ameaçar punições, sem despertar sentimentos de ódio e de culpa, deixando-nos livres para aceitar ou rejeitar esse testemunho “doído” aos olhos da razoabilidade. Se como os contemporâneos de Jesus, não estamos dispostos a elevar o olhar para a cruz, se não queremos abraçar este pedaço de madeira, não como um simples enfeite ou amuleto, mas como prova contundente do infinito amor que Deus tem para conosco, então estamos em uma direção diametralmente oposta àquela de Jesus. A cruz não é símbolo de resignação, de aceitação passiva da dor, mas de proatividade, de busca incansável de vida plena para todos/as. Representa a livre escolha de amar sempre, custe o que custar. Fora desta lógica não dá para entender Deus e Seu Filho, pois, como diz o apóstolo João, quem não se rende ao Amor não conhece Deus.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)