Mas quais Direitos? E para quais Humanos?
Não é muito difícil encontrar alguém verbalizando frases do tipo: “direito dos manos”, “esses aí não fazem nada, ficam só falando de direitos humanos”, “esse pessoal dos direitos humanos ficam defendendo bandidos”, ou ainda, “não sei para quê essa história de direitos humanos”.
Estamos em uma sociedade em que muitas pessoas não sabem e não reconhecem os seus direitos. Temos muitas pessoas que não se sentem inseridos ou participantes da sociedade e, portanto, se consideram pessoas de um nível abaixo, pequenas e menores, diria até que se consideram pessoas humanas inferiores. O contraste entre a realidade vivida e a realidade almejada é separada por um grande fosso: o fosso da desigualdade social. Políticas públicas que não conseguem atingir e promover a distribuição de renda que contemple os que sobraram, os não percebidos de nossa sociedade.
Se a pessoa possui renda e consegue consumir, mesmo que apenas o necessário para sua sobrevivência, esta pessoa não se considera uma pessoa que necessita de políticas públicas. A falta de uma educação pública que promova o ser humano e não apenas o aprendizado técnico, o aprendizado voltado unicamente para atender ao mercado de trabalho, contribui para que essas pessoas não questione sua realidade, não questione as ações públicas. O “não saber” é a peça fundamental que faz com que a pessoa não conheça os seus direitos como cidadão, como ser humano, como pessoa pertencente a uma sociedade.
Os depósitos de gente, que se tornaram as penitenciárias, não atuam para promover a pessoa, para lhe apresentar oportunidades existentes na sociedade e, nem mesmo, para que possam se redimir e buscar viver de forma plena e em harmonia. A sociedade atual necessita da penitenciária e do jeito que a conhecemos hoje. Ela desumaniza, ela incita os detentos a continuar o seu fluxo de vida a caminho da morte. Alguns sopros de vida são encontrados nas unidades das APACs. Mas não são capazes de atender a todo este sistema que foi criado para a manutenção da morte e do crime.
Estar diante de realidades sofridas, de gente que não são tratados como humanos e condições mínimas, as quais chamamos de direito, direito a viver, direito a ter um teto, direito a ter serviços públicos, direitos que de tão mínimos e básicos são como os indigentes, não são vistos. Atualmente, no Brasil, temos 3 milhões de pessoas vivendo sem uma certidão de nascimento. São pessoas que não existem para o Estado, para o mercado de trabalho, para a sociedade.
Quem ganha quando repetimos a frase “para quê direitos humanos?”. Quem ganha são sempre aqueles que vivem da miséria, que espremem os pobres miseráveis. Ganha aquele que usa os desvalidos como moeda de troca política, como meio para conseguir alguma vantagem financeira ou econômica. Os que ignoram os direitos básicos, os direitos humanos e os direitos mínimos que asseguram uma vida com dignidade, são os mesmos que buscam defender o seu individualismo, sua visão narcisista da vida. Hoje, condenam quem atua na defesa da vida e dos direitos humanos. Amanhã, a vida poderá lhe mostrar que até ele precisa destes para defender sua vida.
Por Tranquilo Dias – Leigo Missionário Comboniano