“Mesmo ofendido, Deus nos alivia”
João Batista ainda uma vez nos surpreende. Ao ver Jesus se aproximando para receber o batismo, o apresenta às multidões de seus discípulos como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1,29-34). O título é desarmante. Decepciona quem esperava algo de extraordinário. O Messias não aparece com poder e força conforme as expectativas da tradição, mas vem como “cordeiro”. “Impacta” e até “espanta” pela sua humildade, simplicidade e fragilidade. E tem mais. Não vem para julgar e condenar. “É o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Talvez esta afirmação, repetida toda vez que celebramos a Eucaristia, seja tão familiar aos nossos ouvidos que já não captamos toda sua inovação e grandeza. A tradição mandava o povo subir ao templo para sacrificar cordeiros a fim de aplacar a ira de Deus e reconquistar a Sua benevolência. Com a vinda de Jesus há uma inversão. Não é mais o ser humano que deve fazer sacrifícios para pedir o perdão de suas infidelidades, mas é Deus que sacrifica seu Filho amado para aliviar a humanidade do peso do pecado. É o ofendido que faz a reparação. Só o Deus de Jesus pode cumprir um ato de amor tão grande. Aqui está a diferença abissal entre Ele e os ídolos por nós fabricados. Os ídolos gostam de derramamento sangue. Adoram sacrifícios, inclusive humanos. Seus adoradores estão dispostos a qualquer sacrifício em nome deles. Chegam até ao ponto de se tornarem seus escravos. Basta ver o que acontece com a idolatria do poder, do dinheiro e do sucesso. O Deus verdadeiro, ao contrário, derrama o seu sangue para aliviar o peso da humanidade e libertá-la de tudo aquilo que O ofendeu e que, portanto, a desfigura, porque o pecado, além de ultrajar Deus aliena o ser humano e o desumaniza.
Os estudiosos da Sagrada Escritura fazem questão de alertar que o verbo que é traduzido como “tirar” significa literalmente “levantar”, “tirar e tomar sobre si o peso” para “aliviar”. Jesus veio ao mundo com uma missão que não é para qualquer um. Como não bastasse a ofensa recebida através do pecado, Ele, através de um gesto de inaudito amor, o pega sobre si para aliviar o peso do pecador. Ninguém faz isso se não for motivado por um Amor incondicionado. É o caso de Deus que ama tanto o mundo que envia Seu filho não para condená-lo, mas para amá-lo e libertá-lo de tudo aquilo que o faz sofrer, inclusive o próprio pecado. Seu exemplo merece ser seguido. Não há outro caminho para vencer o mal e o pecado a não ser o amor que nos impele a fazer de tudo para a libertação dos outros, inclusive a dar a vida. Jesus demonstrou isso durante toda a sua missão, inclusive no momento da crucificação. Na hora em que era cometido o pior pecado da humanidade que era matá-Lo na cruz, Ele, através do perdão, tomou este terrível pecado sobre seu ombro aliviando o lado daqueles que o mataram.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)