Migrantes: Por uma Vida Digna e Feliz
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
(Encontros e Despedidas, Milton Nascimento e Fernando Brant)
Queremos ser felizes!! Queremos estar onde nos sentimos seguros, participantes de uma sociedade (ou mesmo, de um pequeno grupo social) e possamos fazer planos para o nosso futuro, para nossa vida.
Estas são questões básicas e que muitas vezes não desperdiçamos o nosso tempo para pensar nelas. A gente vai construindo e fazendo e a vida vai tomando forma. É desta forma que nos permitimos acreditar que, tirando o que não presta, a gente é feliz. Sim. Com ar de deboche e brincadeira, a gente vai levando a vida. Mas nem sempre é assim.
Nossa inquietude é provocada por falta de perspectiva futura, por sofrimento provocado por uma guerra política ou armada, por não conseguir meios para sobreviver no lugar que chamamos de minha casa ou meu lugar neste mundo. Sou migrante. Minha família partiu do centro do país para o litoral. Sentido inverso que ocorria nos idos dos anos 70. Em mente, a esperança de dias melhores, de sobreviver e viver.
As histórias de muitos se misturam num emaranhado de idas e vindas. A sobrevivência nos move, a necessidade nos faz dar o primeiro passo rumo ao desconhecido e a vontade de ter paz é o que alimenta nosso espírito. Famílias inteiras se lançam em longas jornadas em busca de um local que possa lhe oferecer oportunidade de viver com dignidade, com segurança e oportunidade.
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Ser migrante é aprender a conviver com o risco, desenvolver a humildade e se agarrar às oportunidades, por mais simples e pequenas que elas sejam. Quem migra, deixa para trás aquele foi o lugar que lhe gerou. Abandona a segurança. Deixa uma situação sofrida e sem perspectivas para se jogar numa jornada que lhe traga esperança de dias melhores. A cada novo dia, a cada novo lugar, aprendemos a dar valor aos gestos de solidariedade, de aproximação e aconchego. Não mais precisamos de gestos grandiosos ou momentos vultuosos em nossas vidas. Um simples sorriso, um aceno de longe, ou mesmo, um convite para tomar um café (gesto nacional de acolhimento) já nos faz crer que a decisão da mudar, de enfrentar uma tortuosa mudança, deu certo. Foi a decisão acertada.
A Organização Internacional do Trabalho já produziu muitos documentos densos e importantes sobre a questão do migrante que busca um novo lugar para trabalhar e viver. A Convenção relativa aos Trabalhadores Migrantes (n.º 97) aprofunda a discussão sobre o universo existente em torno dos migrantes.
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
Em tempos de discriminação e exclusão, nos muitos casos registrados de humilhação contra aqueles que migraram, somos convidados a refletir sobre os “porquês”: por que não acolher? por que se sentir ameaçado com aquele que é diferente? por que fechar as portas e o coração para aquele que nada fez para causar esta situação?
Construir a vida a partir da solidariedade e ajuda de estranhos. Superar as limitações e barreiras. Sorrir apesar de todo sofrimento. Ser migrante é desafiador e gerador de muitos momentos de alegria. É ser feliz onde estiver, hoje, agora. É ajudar a construir um povo, uma sociedade, uma pequena colônia. Para um dia pode dizer: aqui é a minha casa, aqui é o meu chão.
Por Tranquilo Dias,leigo missionário comboniano