
Missão-Centro África: Diálogo de Paz como Jesus no lava-pés
Caríssimos amigos, eu sou o pe. Everaldo, missionário comboniano, na República Centro Africana há 10 anos. Nos últimos anos, trabalhei na paróquia S. Miguel de Boda, com 45.000 habitantes, sendo 50 % católicos, 40% muçulmanos e 10 % evangélicos. É um ambiente multicultural e multirreligioso. O povo está sofrendo com as consequências da guerra: postos de combustíveis destruídos, escolas delapidadas, hospitais abandonados, estradas impraticáveis.
Estamos numa região rica em recursos naturais: ouro, cobre, diamante, etc. Porém os garimpos criam uma nova forma de escravidão. Os pobres são explorados e não percebem. Eles abandonam a agricultura pensando que um dia serão ricos, graças ao trabalho nas minas.
Nosso maior desafio é a coesão social. O Povo está dividido segundo suas etnias e confissão religiosa. Pessoas que cresceram juntas, hoje têm medo de se cumprimentarem por causa da violência e dos traumas sofridos durante a guerra. Enquanto nós, líderes religiosos, pregamos a paz e a reconciliação, bandos armados continuam a ameaçar os inocentes.
Neste contexto, nós anunciamos a ressurreição de Jesus como um evento que traz vida, paz e esperança. Nos empenhamos na pastoral, na formação dos fiéis e na solidariedade com os mais excluídos. Abraçamos a causa do diálogo ecumênico e inter-religioso. Junto com outros líderes religiosos, sensibilizamos as pessoas para o respeito mútuo e a convivência pacífica das diferentes religiões e etnias, visando promover a paz, este bem essencial e tão raro hoje na África e no mundo.
Às vezes, não vemos os frutos dos nossos trabalhos, mas é enriquecedor perceber a presença de Deus que me fortalece e assegura que vale a pena sonhar e lutar pela Paz. É gratificante partilhar este sonho com outros colaboradores inclusive não-cristãos, que reconhecem a nossa presença como um estímulo para que eles não desanimem diante dos obstáculos e sofrimentos.
Cada pessoa carrega consigo um tesouro que deve ser respeitado, conhecido e valorizado. Por isso realizamos o nosso serviço missionário com espírito de humildade, escuta e diálogo. De fato, estamos convictos que toda experiência vivida e iluminada pelo Evangelho se torna um aprendizado inesquecível.
O povo me impressiona pelo seu espírito de luta e de fé em meio a tantas dificuldades. No mês passado, quando eu celebrava uma missa de despedida na minha paróquia, um pastor disse: “Se não fosse a presença dos missionários e da Igreja no meio de nós, não saberíamos mais se Deus está conosco”. Assim, agradeço a Deus, pelo testemunho de tantas pessoas que partilham o mesmo ideal: anúncio do Evangelho e luta pela paz. Que o Cristo Ressuscitado nos dê a sua paz e nos fortaleça, a fim de que também nós possamos fortalecer e consolar as pessoas feridas e traumatizadas pela guerra.
Everaldo Alves, comboniano na Rep. Centro Africana