
Missão Entre os Indígenas da Selva Central – Povo Nomatsigenga
Relato da experiência missionária do Alex Geraldo Nunes, escolástico comboniano brasileiro, entre os Indígenas da Selva Central do Peru, em Pangoa – o povo Nomatsigenga.
Sou Alex Geraldo Nunes, 36 anos, missionário Comboniano no Peru para realizar estudos de teologia. Vivo em uma comunidade internacional e intercultural composta por mais de 12 países diferentes e três continentes: América, Europa e África. Durante os meses de janeiro e fevereiro, temos a oportunidade de vivenciar uma experiência missionária em alguma realidade deste País que nos acolhe. Este ano, um companheiro do Benin, Francisco, e eu fomos enviados para a Selva Central do Peru, no estado de Junín, na cidade de San Martín de Pangoa. Nesta cidade, os missionários Combonianos têm uma missão que inclui o acompanhamento dos povos indígenas nesta área. Há várias comunidades indígenas, e fomos especificamente designados para uma comunidade nativa Nomatsigenga chamada Santa Terezinha, onde vivem em média 500 pessoas, distribuídas em 120 famílias.
Nosso tempo nesta comunidade foi de dois meses, durante os quais desenvolvemos principalmente atividades como férias úteis, celebrações litúrgicas e compartilhamento de vida com as famílias. Ao chegarmos à comunidade em 5 de janeiro, junto com o Padre David, missionário Comboniano do Congo, fomos apresentados ao povo, que nos recebeu com alegria, oferecendo-nos mazato (uma bebida típica feita com mandioca). O primeiro passo foi nos apresentarmos ao chefe do povo, explicarmos o motivo de nossa presença e apresentarmos nossos planos de trabalho. Esses protocolos foram cumpridos com alegria e entusiasmo tanto de nossa parte quanto do chefe do povo, que nos acolheu com muita alegria.
Chegamos com o objetivo de apoiar as férias escolares. É comum nestas comunidades durante as férias acontecerem as chamadas ‘férias úteis’, onde são oferecidos cursos para os alunos a fim de fortalecer o aprendizado, que é bastante fraco nessas situações. Nosso trabalho não se resumiu apenas ao ensino de espanhol e matemática. As crianças são verdadeiramente uma porta de entrada para conhecer a cultura, o idioma e o modo de vida. Rapidamente começamos a arriscar algumas palavras em Nomatzgenga e também conseguimos nos comunicar com as crianças e suas famílias. As aulas de duas horas todos os dias nos ajudaram a manter contato constante com o povo, identificando alguns desafios na aprendizagem. Muitas das crianças também ajudam seus pais nas plantações, então de manhã vão à escola e à tarde já têm que ir para o trabalho.
Aos domingos, nos reuníamos na capela da comunidade, dedicada a Santa Teresinha, para compartilhar a palavra de Deus. Falar de Deus nessas realidades exige viver com eles, conhecer um pouco de sua vida, seus costumes e culturas. Nesse momento, pude colocar em prática todo o aprendizado adquirido nos cursos de Filosofia e Teologia. Não se trata apenas de transmitir uma grande quantidade de informações sobre Deus. É necessário encarnar esse Deus na realidade desse povo, fazer com que todo o conhecimento se torne prática, tornar-se um encontro com Deus. Para isso, é essencial sensibilidade, amor e o desejo de falar de Deus para eles. Estou seguro de que um missionário sempre deve ter em seu coração essa sensibilidade de falar de Deus nas diferentes realidades que enfrenta. Não se trata apenas de um anúncio do Kerygma, frio e teológico, é necessário que esse anúncio seja encarnado na realidade das pessoas. Isso me faz lembrar o exemplo de Comboni em seu Plano de Regeneração da África, ‘Salvar a África por meio da África’.
Finalmente, é tempo de chuvas, muitas vezes nosso serviço consistia em estar com as pessoas, ouvi-las, viver com elas, ir às suas plantações, comer de sua comida, literalmente comungar de suas vidas. Para mim, esta é uma forma de encontrar Deus. Era gratificante pela manhã, quando íamos tomar café, uma crian
ça sempre chegava trazendo mandioca cozida com sal, para que pudéssemos comer. Quando os homens voltavam da caça à noite, compartilhavam conosco algo do que haviam trazido para suas numerosas famílias.
Estou seguro de que a experiência com esses povos indígenas do Peru me aproximou de Deus, me fez encontrá-Lo de diversas formas, pude escutar Sua voz, Seu grito em vários momentos. Encorajo você, que está lendo este testemunho, a ser também um missionário. A missão é uma das formas mais nobres de encontrar Deus e contribuir para a construção do Reino anunciado por Jesus Cristo. Escolhi o Instituto dos Missionários Combonianos para atender a este chamado de construir o Reino de Deus. Sou feliz e muito realizado por fazer parte desta família missionária.
Um forte abraço.
Alex Geraldo Nunes
Lima, 4 de fevereiro de 2024.