Não pode haver pobre entre vós
A multidão dos fiéis das primeiras comunidades cristãs era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. A comunhão fraterna era sua marca original. O evangelista Lucas nos fala sobre isso no livro dos Atos dos Apóstolos. É uma questão que lhe é cara. Ele a menciona bem três vezes (Atos 2:43-47; 4:32-35 e 5:12-16). Ele insiste em provocar nosso estilo de vida. A comunhão fraterna não pode ser reduzida a um fóssil da pré-história do “cristianismo primitivo”, mas é o modo de vida do cristão de todos os tempos e lugares. O segundo relato (At 2,42-47), que conclui o evento de Pentecostes, não deixa dúvidas: a comunhão fraterna é o efeito imediato do dom do Espírito. Para viver em comunidade, é preciso nascer do Espírito. Somente o Espírito pode dar o dom da concórdia. “Podemos fazer acordos de paz, mas a concórdia, isto é, a união dos corações até o ponto de se tornarem um só coração e uma só alma, é uma graça interior que só o Espírito Santo pode realizar” (Papa Francisco). A comunhão fraterna com a partilha dos bens não é uma experiência passageira, mas o estilo de vida do cristão. Somos feitos para vivermos juntos em harmonia fraterna. A terra é para viver – dizia pe. Fausti –, e a vida é viver com os outros. Se, por outro lado, nós fazemos da terra e dos bens materiais o objeto da posse egoística, então nos tornamos idólatras, sacrificamos nossa vida aos bens materiais e matamos os outros quando lhes negamos o acesso ao necessário para viver com dignidade. Se acumulamos bens só para termos uma vida luxuosa ou os desperdiçamos no lugar de partilhá-los, nós os usamos apenas para matar nossos irmãos e irmãs que fazem o mesmo e o mundo se torna o inferno que conhecemos bem e que faz muita notícia. Mas nós não somos feitos para isso, somos feitos para uma vida bela que aqui é descrita como união fraterna. O mundo precisa de cristãos que vivam assim. O seu testemunho torna-se fonte do esplendor do Evangelho. O próprio Lucas diz isso: as comunidades cristãs, pelo modo como viviam, atraíam a simpatia do povo (Lc 2, 47; 4,33; 5,13). Viver em comunhão fraterna é, portanto, o melhor caminho para evangelizar. (pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)