
Não tem Amor Maior do que o Perdão
Com sua habitual bravata, Pedro questiona Jesus sobre a quantidade de vezes que precisa perdoar o irmão que comete uma falha contra nós. Ele propõe sete vezes. um número não por acaso. Na cultura judaica indica totalidade. Conforme seus cálculos, que seguem uma matemática rigorosamente humana, basta perdoar sete vezes para sentir-se “justo” diante de Deus e com a sensação de “dever cristão” cumprido. Mas Jesus não se dá por satisfeito. Dá uma resposta “desproporcionada” que nos tira da zona de conforto e nos deixa em saia justa.: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,21-19,1). Para Ele, “setenta vezes sete” não faz 490, mas “sempre” que, na gramática de Deus, deixa de ser um advérbio de tempo para se tornar um advérbio de qualidade. O perdão não é uma questão de quantidade, mas de qualidade. Tem tudo a ver com gratuidade. Não é também uma grandeza proporcional. Se fosse assim, seria um mero cálculo, mas é uma forma desmedida de amar que corresponde ao amor incondicional, exagerado e excedente de Deus. É um dom incalculável.
Perdoar não é fácil, como não é fácil amar. O enamoramento é espontâneo, mas para amar precisa tomar uma decisão. Decidir, inclusive, de permanecer amando mesmo quando é difícil e “espontaneamente” dá vontade de desistir de amar. A mesma coisa acontece com o perdão. O rancor é espontâneo, mas para perdoar é necessário tomar uma decisão, mesmo quando espontaneamente dá vontade de sentir ódio. (pe. Antônio Mancuso).
Quem pode nos ensinar a perdoar é o próprio Deus. Só Ele sabe amar assim. Portanto, o perdão é um dom que precisamos invocar o tempo todo. É um dom de Deus. Também, não é algo que se vive num instante, mas é um processo, um caminho que parte da experiência do perdão de Deus. De fato, somos capazes de perdoar, se em primeiro lugar reconhecemos que nós precisamos ser perdoados por Deus. Ele perdoa sempre nossas dívidas que, em números, sempre tem mais zeros do que qualquer dívida que os outros possam ter conosco. A proporção entre as “cem moedas”’ que os outros nos devem e a “grande fortuna” que devemos a Deus é de um a seiscentos mil!! Se somos amados/as desmesuradamente, amemos da mesma forma.
Aproveitemos desse tempo de Quaresma para experimentar o perdão de Deus especialmente vivendo o sacramento da Reconciliação. Doemos e recebamos o perdão. A experiência de nossa fragilidade e a consciência de nossas feridas nos torne mais misericordiosos/as e pacientes para com as limitações dos/as outros;/as. O único pecado imperdoável é acreditar que nós não precisamos de perdão!
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)