“Não tenham medo!” (Mt 28,8-15)
Estas palavras de conforto aparecem frequentemente nestes dias de Páscoa. Fazem parte da saudação do Ressuscitado juntamente com o dom da paz. Reevocam o aconchego dos pais para com os/as filhos/as quando acordam assustados/as de um pesadelo ou enfrentam algum medo. Propiciam conforto, segurança e proteção. Como é bom sentir-se amados/as, cuidados/as e protegidos. A pior desgraça da atualidade é a “ausência”, a começar dentro de casa. É não poder contar com a presença de alguém, sobretudo nos momentos de desconforto. Sobram os medos e carecem as presenças. Não é necessário fazer alguma coisa, até porque, nem sempre tem algo para fazer. Basta estar. A certeza da presença amiga, solidaria, animadora, consoladora e conselheira é suficiente para devolver a tranquilidade. Essa promessa de presença é o maior ato de amor. É isso que faz Jesus. Não temos motivo de ter medo, pois Ele está conosco, mesmo se não conseguimos vê-lo. Com a Ressurreição Ele volta à casa do Pai, mas continua presente no meio de nós. Somos nós que devemos aprimorar nossa vista para aprender a reconhecê-lo nas novas modalidades de presença. Jesus dá uma pista: “Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”. O primeiro passo é voltar às origens. Não se trata de um retorno estéril e saudosista ao passado como pedem os “tradicionalistas”, mas do reencontro com a experiência de Jesus de Nazaré através da escuta do Evangelho. É reler toda Sua vida à luz do mistério pascal para entender o verdadeiro sentido de tudo aquilo que aconteceu. É isso que o Mestre faz com os discípulos de Emaus quando reacende a chama do amor no coração deles através da explicação das escrituras. É um retorno às aulas do Mestre. Trata-se de uma retomada do discipulado para aprender Seu jeito de ser, sua linguagem e gestualidade de amor, acolhimento e misericórdia. De fato, não dá para reconhecê-lo como Ressuscitado sem tê-lo conhecido como o Filho do Homem. Não dá para reencontrá-lo como Senhor, sem tê-lo encontrado como Jesus de Nazaré. Precisa sentar à mesa com Ele e partilhar o Seu Pão e beber ao Seu cálice para que os olhos se abram ao Seu reconhecimento. Se o conhecimento de Jesus acontecer, para reencontrá-lo não precisa vagar pelos espaços siderais, basta manter os pés bem firmes no chão da “Galileia”. Quem frequenta a “escola do Mestre” sente Sua presença nos acontecimentos da vida e O reconhece nas pessoas que encontra. Quem encontra quotidianamente Jesus no silêncio da contemplação, o reconhece nas “chagas” que rasgam a carne dos/as empobrecidos/as e injustiçados/as. “Eu vejo Jesus – dizia Santa Teresa de Calcutá – em cada ser humano. Eu digo para mim mesma: este é Jesus com fome, eu tenho que alimentá-lo. Este é Jesus doente. Este tem lepra ou gangrena; eu tenho que lavá-lo e cuidar dele. Eu sirvo porque eu amo Jesus”. Portanto, levando em consideração a imensa quantidade de pobres pelo mundo afora, não falta Jesus neste mundo. Quem faz falta é a presença dos/as cristãos/ãs ao lado d’Ele(s).
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)