
Não Tenhas Medo desse Carrasco
Estas palavras dignas de ser lembradas para sempre pertencem à “mãe admirável e digna de abençoada memória que, num só dia, viu morrer sete filhos e tudo suportou valorosamente por causa da esperança que depositou no Senhor”. A memória desse heroísmo feminino e materno chega até nós através do 2º Livro dos Macabeus (7,1-31). Revestida de grande coragem e zombando do cruel tirano, ela exorta o sétimo e último filho, o caçula, a resistir até o fim às ofertas tentadoras utilizadas pelo rei Antíoco IV para persuadi-lo a desistir da Lei de Deus. Sem medo de perder a vida, luta com todas suas forças para preservar a memória: a memória da salvação, a memória do povo de Deus, a memória que fortalecia a fé daquele povo perseguido pela colonização ideológica e cultural do tirano, a memória dos valores que enobrecem a vida, a memória que ajuda a vencer qualquer sistema perverso (papa Francisco). Foi graças a ela e a muitas outras boas mães que não tiveram medo de transmitir a fé que o Povo de Deus foi adiante. A cena é forte. Gera muita comoção, mas, sobretudo, faz história. Torna-se emblemática. Extravasa os limites do espaço e do tempo e se multiplica no testemunho de milhões de mães que dignificam a existência humana com sua coragem. São mães de fé que não se limitam a colocar crianças no mundo, mas as dão à luz da Verdade. Iluminam seus filhos e suas filhas com o brilho de seu testemunho para que consigam enxergar o que traz valor à vida, busquem o verdade com obstinação, perseverem no bem e sejam, por sua vez, fonte de luz para sua prole e a sociedade. Elas resistem aos valores efêmeros que desvalorizam a vida. Apostam no essencial. Fazem do cuidado o fundamento ético de sua maternidade e agem de consequência orientando a família conforme os valores que garantem vida definitiva e realização plena. Vão à luta buscando garantir a seus filhos o que lhes pertence de direito. Seu compromisso não se limita dentro dos muros de suas casas. É próprio da maternidade criar redes de solidariedade. A dor de mãe só outra mãe entende. A aflição alheia torna-se sua. O luto de uma é o luto e a luta de todas. O instinto materno leva a cuidar dos/as filhos/as das outras como se fossem seus/suas próprios/as filhos/as. É costume delas chamar todo mundo de filho/a. A maternidade é individual e coletiva. Faz parte da maternidade as mães se juntarem para lutarem por todos/as os /a filhos/as. Possuem uma inata militância em favor da vida. Buscam o melhor para seus rebentos. Resistem com garra quando do outro lado da barricada tem um carrasco. Enfrentam qualquer tirania quando está em jogo o presente e o futuro de seus filhos e filhas. A maternidade contém um gene revolucionário. Quando as mães se juntam qualquer palácio treme. Vale a pena fazer memória entre tantas, das mães e avós argentinas que não arredaram pé da Plaza de Mayo até conseguir notícias dos filhos/as e netos/as arrancados/as a força de seus abraços por uma ditatura sanguinária. É memorável também o martírio de Margarida Maria Alves, símbolo de todas as mães guerreiras que lutam por vida, pão, justiça, terra, paz e solidariedade. Não sei como são as mães dos carrascos. Ouso acreditar que também elas buscam dar o melhor para seus filhos. Não merecem a dor de ver seus filhos fazer sofrer, maltratar e até matar suas companheiras de maternidade.
Mãe, onde você estiver receba meu beijo de agradecimento, pois sou o que eu sou graças ao exemplo, à educação e ao cuidado que você me proporcionou. Obrigado a todas as mães por existirem e a Deus que criou a maternidade e fez de Maria, mulher do povo, a mãe querida de todos/as nós.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)