
Não vim trazer a paz, mas sim a espada!
“Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada” (Mt 10,34-11,1).
Jesus não veio para trazer sossego, mas para tirar a gente do sossego. Sua Parola não tem o efeito de entorpecer as consciências, mas de balançá-las e acordá-las para a Vida que tem verdadeiramente sentido. Seu Evangelho não é um manual de autoajuda com sugestões para alcançar o próprio bem-estar, mas uma proposta de vida que revoluciona totalmente a maneira de pensar e agir. Cada Seu gesto não é só uma carícia consoladora, mas também uma espada afiada que penetra na carne e corta toda postura que contradiz Seu jeito de ser. Cada Seu discurso não é uma simples exortação, mas a narração de Sua paixão irresistível por Deus e pelo Seu Reino que deve contagiar.
Sua estratégia não é aquela da diplomacia, mas do enfrentamento. Ele não se coloca na linha dos “bobos da corte” que vivem à sombra dos poderosos e os bajulam para garantir-se o direito a não serem incomodados, mas assume plenamente a tradição profética afastando definitivamente toda tentativa de domesticação e enquadramento. Ele veio para salvar todo mundo, mas sem descontos, adequações ou promoções. Conversa com todo mundo, mas “não fecha os olhos” diante das maldades nem “fica quieto” diante das injustiças para evitar de se fazer inimigos e para salvaguardar a “boa vizinhança”. Ele afirma com clareza que o Seu Evangelho traz divisão: “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc 12,51).
Sua mensagem é um convite a “incendiar” o mundo com a caridade, a prática da justiça, a solidariedade e o cuidado com a vida. Nós cristãos deveríamos ser os herdeiros desse desejo de Jesus, os portadores e os difusores deste incêndio. Mas precisamos admitir que frequentemente agimos como bombeiros. No lugar de alimentar o fogo da paixão pelo Reino de Deus, preferimos continuar com práticas que nos mantêm distantes dos conflitos, inclusive nos adoperamos para apagar qualquer princípio de incêndio profético que acontece em nossas comunidades para manter uma paz fictícia. Enquanto nós apagamos o fogo do Evangelho, o mundo queima na fogueira do ódio, da violência, da injustiça, da destruição ambiental e da guerra alimentado por aqueles que recusam a proposta de Jesus e aqueles que escolhem o lado da omissão ou dormem sonhos tranquilos nos braços de práticas religiosas alienantes. Se não acordarmos agora diante de tanta fogueira acabaremos queimados nela. A paz de Jesus custa caro. O preço é a cruz. O ganho é a Vida do Eterno.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)