
Natal chega: A pressa nasce da Escuta – resposta à Palavra
A PRESSA NASCE DA ESCUTA
A melhor profissão de fé

“Escutar é a operação primária do ser humano diante de Deus, tanto que podemos dizer que se do ponto de vista de Deus “no início estava a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (Jn 1:1), do ponto de vista do ser humano “no início está a escuta” (Enzo Bianchi). Maria é um exemplo disso. A sua singular história nasce da escuta da Palavra. O anjo “diz” e ela, após ter ouvido com atenção, dá a sua palavra: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). “A fé nasce da escuta”, dizia o apóstolo Paulo (Rm 10,17). “A vida cristã é o crescimento do ouvido”, reforça Isaque o Sírio. É vidente que não se trata de uma simples audição, mas de uma escuta que tem sua plenitude apenas no coração (Enzo Bianchi). O povo de Israel dava muita importância a isso. “Escuta, Israel” era o mandamento dos mandamentos, a melhor profissão de fé. Para a Bíblia escutar é mais importante do que ver. Quando não há uma escuta verdadeira, abre-se caminho para a terrível experiência que os profetas chamam de esclerocardia. É a síndrome do coração duro como pedra, uma doença que desgosta a Deus e que Jesus aponta como o mal que desumaniza o ser humano. Quem não escuta com o coração, não enxerga o sofrimento do outro e, se o vê, vira a cabeça para o outro lado e continua pelo caminho da indiferença.
Maria escuta: atenta e ativa
Ao contrário, quando há disponibilidade à escuta, as palavras de Deus descem para as profundezas do coração e aqui são bem-vindas, meditadas, lembradas, pensadas, conectadas umas às outras, interpretadas e guardadas com perseverança, de modo que, graças ao seu dinamismo inspirador, elas se tornam ação. É isso que acontece com Maria. Escuta na pobreza. Espolia-se de tudo, inclusive de si mesma para dar espaço a Deus. Escuta na criatividade. Coloca sua vida nas mãos do Oleiro para que a modele a Seu gosto. Escuta na alegria ao descobrir que é amada por Deus. Enfim, escuta no serviço. A Palavra coloca asas a seus pés. Incendeia-a de ardor missionário. Da escuta sai correndo para a Palavra acontecer. Dentro de si há muita alegria a ser compartilhada e muito amor a ser doado.
Correr até aos pobres

Confessso que esta pressa de Maria me desafia. É uma provocação nestes tempos de desmobilização, imobilismo, comodismo e apatia. Está na hora de voltar às ruas, colocar o pé na estrada, visitar, encontrar, tocar, testemunhar, manifestar-se publicamente, dar a cara à tapa se for o caso e ficar, assim como Maria, na casa das muitas “Isabéis” desesperadas por não terem comida para oferecer às suas crianças, que choram a vida ceifada prematuramente pela violência, que vivem na angústia de serem despejadas, que saem de casa para trabalhar em troca de uma mixaria de salário… São todas nossas “parentas”. Pertencem à nossa família humana. Seus dramas merecem nossa pressa, nosso compromisso concreto, nossas visitas e nossa presença. Chega de solidariedade à distância, de turismos pastorais ou de “voos panorâmicos por helicóptero”. Todos aqueles que reclamam da impaciência diante do descaso para com os pobres deveriam visitar ou até morar nas “periferias geográficas e existenciais” para entender a pressa do povo que tem seus direitos violados. É interessante reparar que, quando pisam no nosso calo institucional ou pessoal, temos pressa de emitir notas de indignação ou de reivindicar justiça. Mas nem sempre temos essa mesma pressa quando está em perigo a vida dos pobres. A omissão impera.

Opção de Deus – Opção de Maria
Imitemos Maria. Coloquemos o pé na estrada a caminhemos apressadamente rumo a quem sofre ao ritmo do mesmo hino que ela cantou: “Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. Quem carrega Jesus em seu ventre tem pressa de ver acontecer o Seu Reino de justiça, paz e vida plena. Ele fica triste quando é “cuidado” e “mimado” nos nossos espaços de culto. Pula de alegria quando é levado para a rua ao encontro dos mais pobres. Santa Maria, pé no chão e do passo apressado, desata os nós que nos prendem à inércia, à indiferença e ao descompromisso e doa-nos a devida inquietação diante do sofrimento alheio.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)