Negritude e Consciência Negra
Testemunhos de três pessoas, recolhidos pelo padre Bernardino na região Pau da Lima-Sussuarana em Salvador-BA sobre a presença comboniana e a questão da negritude.
Dona Antônia Elita: “Para ser sincera, eu não me lembro, antes da chegada dos combonianos, de ter essa preocupação com a negritude. Nós viemos perceber muito mais a questão racial com a chegada dos combonianos. Eram pessoas negras, mas que não se identificavam como negras. Nós não víamos que a questão da cor da pele fazia com que nós estivéssemos vivendo toda essa situação de pobreza.”
Dona Margô: “Antes de conhecer os combonianos, tanto eu como outras pessoas que fizeram essa caminhada, nos sentíamos feios, nós tínhamos medo de nos expor. Eu, particularmente, tinha medo ou receio de falar, talvez as pessoas não me aceitassem, era uma dificuldade de expressão em todos os sentidos. Depois fui descobrindo os valores. Lembro sempre duma frase que ajudou muito a gente: ‘o negro tem valor’. Então foi aí que senti que algo começou a ascender em mim e também em todas as pessoas, principalmente os jovens. Começamos a olhar para nós mesmos e a acreditar que somos importantes. Com os combonianos, nós aprendemos nossa história; a se conhecer como pessoa, se reconhecer como ser humano e saber que pode e precisa caminhar junto. Então, isso levanta um pouquinho a nossa autoestima. Uma vez que a gente se reconhece como gente, como pessoa, isso abre espaço para outras descobertas a partir de nós mesmos. Os combonianos viraram a moeda quando nos ajudaram a reler com cabeça erguida a nossa história.”
Bebeto: “Nós só víamos pessoas brancas na TV, nós não ouvíamos falar da palavra negritude, negro; nós vivíamos como se tudo fosse normal, do jeito que Deus permitia. Eu, pessoalmente, tive um momento da minha vida, que passava por uma loja, por um restaurante e não entrava, porque não conseguia me identificar. Não conseguia me ver dentro daquilo ali. Eu acreditava que meu lugar era na minha comunidade, com meu povo, na minha favela. Aqui não era meu lugar. É você não se perceber enquanto cidadão, de fato, e de direito. Era essa coisa de separação, de brancos podem e negros não podem. Com a chegada dos combonianos, nós começamos a despertar. Nós começamos a se identificar, e começamos a mudar a visão que nós tínhamos de nós mesmos.”
Produzido em colaboração com o Bernardino Mossi, comboniano em Salvador