O Amor é Desmesurado
Um escriba se aproxima de Jesus para interrogá-lo a respeito de um assunto muito debatido entre os rabinos: qual dos 613 preceitos da Lei era o mais importante. Jesus sabe que, apesar das melhores intenções, o exercício do escriba é apenas intelectual. O “doutor” conhece a doutrina. Passou a vida toda estudando a Sagrada Escritura. Seu comentário a respeito da fala de Jesus demonstra quanto grande e profundo seja seu conhecimento. O próprio Jesus elogia seu comentário. Do ponto de vista teórico está no caminho certo, ao contrário dos fariseus que afirmavam que todos os mandamentos deveriam ser observados como se fossem os primeiros. O desafio do escriba agora é colocar em prática o que que ele aprendeu no Livro. Não basta usar a cabeça. Amar é uma opção de vida total, integral. Abrange todas as dimensões do ser humano. É por isso que Jesus não diz para ele “Tu estás próximo do Reino de Deus”, mas “Tu não estás longe…”. Parece a mesma coisa, mas não é. Para entrar no Reino não basta dizer “Senhor, Senhor…”, mas precisa fazer sua vontade que é amar para valer. O escriba está no caminho certo, mas precisa andar muito ainda para se aproximar do Reino. Precisa se tornar Amor. É necessário que se faça próximo. Na frente dele está quem pode ensinar a viver assim. Jesus é o samaritano. Basta escutá-Lo. Não se trata somente de uma questão de ouvido, mas sobretudo do coração. Ouvir Deus significa deixar-se amar por Ele, pois é justamente esta experiência de ser amado por Ele que nos habilita a amar o próximo. “Tu não estás longe…” significa que, em matéria de amor, não há ponto de chegada preestabelecido. O amor não tem limites. Não existe um amor certo, pré-definido, com tamanho e intensidade “justas” para ser usado como parâmetro com o qual confrontar o nosso para verificar o que nos falta ainda para alcançar o ideal ou para fazer comparações entre nós para saber quem ama mais. O Amor tem o limite de não ter limites. O próprio amor de Deus não conhece fronteiras. Excede. Transborda. Supera-se o tempo todo e surpreende. Quanto mais achamos que estamos próximos da “perfeição”, tanto mais nos desafia a ultrapassar as barreiras que nossa razão e nossa vontade gostariam de impor-lhe. Não se ama mais bastante. O amor autêntico é dinâmico. Sempre cresce. Sempre avança. Exige cada vez mais. É um caminho ilimitado. Basta olhar a cruz para entender essa verdade.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)