
O Bicentenário da Independência do Brasil
Celebrar a independência é sempre uma oportunidade de revisitar a própria história e fazer uma avaliação da caminhada, do processo.
Há 200 anos o Brasil tornou-se, enquanto país, independente daquele outro, Portugal. Tomou as rédeas de sua história. Tornou-se responsável por escrever a sua própria história. E isto já é motivo suficiente de celebração: ser autor, responsável ativo, do processo de construção de sua identidade independente e autônoma. Se com grandes e belos passos, se com passos menores e menos felizes, ter a própria história nas mãos é motivo de celebração. E nestes 200 anos quanto testemunho de resiliência e de esperança na defesa e no cuidado da vida, dos direitos humanos, dos povos originários, dos trabalhadores e trabalhadoras, dos movimentos populares, enfim, a história vivida e nem sempre contada oficialmente, mas que é fruto de sonhos e lutas na busca de construir um Brasil diferente.
Neste sentido, vale destacar aqui a referência ao bicentenário da independência do Brasil, na mensagem da CNBB ao povo brasileiro em sua 59ª assembleia geral:
“Ao comemorarmos o bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra. Comprometidos com essas conquistas e inspirados pela cultura do diálogo e do encontro, podemos ser uma nação realmente independente e soberana”.
Quais os “gritos de independência”? Primeiramente, é preciso reconhecer o desafio de assumir a construção da própria história. Não delegá-la para outros. Neste sentido precisamos dar passos gigantes ainda num processo de democracia participativa e não somente representativa. Outro grito de independência é o reconhecimento e valorização das diferentes culturas em nosso país, da economia local, da ‘boa política’ no esforço histórico e resiliente na construção da democracia. Enfim, outro grito de independência, é a necessidade de uma reforma política, jurídica e fiscal, pois são sempre os mais pobres que arcam com a maior tributação de impostos no país.
A história de diversos países os une entre si: Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste. Por causa desta história, todos são lusófonos, ou seja, têm a língua portuguesa como língua oficial. Esta facilidade linguística deveria permitir uma eficaz comunicação. Porém, parece não haver um interesse comercial e até mesmo, cultural. Poucos acordos entre os países, pouca proximidade.
No contexto eclesial, a Igreja do Brasil se coloca em um caminho de diaconia: com a Igreja da Guiné-Bissau, de Moçambique e do Timor Leste tem projetos de cooperação intereclesial. Temos uma significativa experiência de missão ad gentes e inter-gentes com o projeto ‘Igrejas Irmãs’.
Dom Odelir José Magri, MCCJ
Bispo de Chapecó e Presidente da Comissão Missionária da CNBB