
O Bom Pastor e a Presença que Transforma
Ao assédio das massas, Ele prefere o contato pessoal. Larga o sucesso da multidão para encontrar-se pessoalmente com cada ser humano. Não é o mercenário que trata o povo como gado para satisfazer sua mania de grandeza e alimentar seu narcisismo, mas é o Bom Pastor que conhece suas ovelhas pelo nome e cuida de cada uma delas com muito amor. É impressionante como, no meio da multidão, Ele consegue prestar atenção às pessoas que ultrapassam todo tipo de barreira para chegar até Ele. “Impõe tua mão sobre minha menina, e ela viverá”, suplica o chefe da sinagoga que precisa sair de seu mundo religioso para encontrar Jesus. “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”, pensava a mulher que, tendo ouvido falar de Jesus, aproxima-se dele às escondidas porque, por causa de sua enfermidade, é considerada uma pessoa impura e, portanto, indigna de se aproximar de Deus e conviver com a comunidade. Aos olhos do leitor superficial representam o grito de duas pessoas desesperadas, na realidade, resumem duas histórias de fé que se cruzam e emergem no meio da multidão. Ambas dão rosto e nome ao sofrimento que até então parecia impessoal. Jesus dá atenção a cada uma delas. Mesmo cercado pela multidão, consegue identificar a condição de cada um/a e prestar um cuidado personalizado. A dor de cada ser humano o comove. Toca Seu coração. Desinstala-O dos Seus aposentos. O obriga a intervir. Ele, como o Pai, não consegue ficar indiferente e manter-se distante de quem sofre e luta todo dia sem resignar-se. Permite que O incomodem. Deixa-se pegar pela mão de quem sofre e conduzir até o foco do problema para marcar presença onde a dor se faz mais intensa e o desespero tem tudo para tomar conta. Sua presença já basta para alimentar a esperança. Faz-se tocar, pois seu jeito simples, despojado e “humano” de agir o torna acessível a todas as pessoas. À imposição das mãos prefere o aperto de mão. Em vez de uma fórmula ritual, opta pelo gesto de sair rumo à casa do chefe para tomar a menina pela mão e ajudá-la a levantar-se. Acaba com o show da fé, despede a “banda” e manda embora a multidão alvoroçada para ficar sozinho com quem precisa dele. Podia chamar a mídia para conseguir mais sucesso. Como também não lhe faltava poder para resolver à distância, mas Ele faz questão de marcar presença. Não Lhe basta SER. Gosta de ESTAR, com seu jeito discreto, compassivo e solidário. A obsessão pelas igrejas cheias e pelos aplausos das multidões está acabando com o contato pessoal. Tem “apóstolo” que aparece mais na TV do que na rua, mais no escritório do que na praça, mais em cima do palco e no trio elétrico do que no cenário da vida concreta, sobretudo onde a dor está sempre em cartaz. Na hora do sofrimento, a presença física faz toda a diferença. Mesmo se não é possível resolver o problema como gostaríamos que fosse, podemos dar uma mão para carregá-lo e enfrentá-lo com dignidade. Assim é Deus. Esse é seu verdadeiro rosto, a imagem que Ele nos doa através de Jesus de Nazaré e com que somos chamados a assemelhar-nos.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)