O Coração de Pai e Mãe está sempre de portas abertas
O Evangelho proposto nestes dias fala de oração (Mt 7,7-12). Não há cheiro de incenso nem a suntuosidade do templo, mas a atmosfera do lar. Não há sacerdote que se atribui a função de mediar nem político que gosta de ser suplicado para conceder favores, mas uma conversa entre pai e filho/a. Fala-se de oração num contexto de casa de portas abertas, de acolhida recíproca, de filho que busca ser atendido e de Pai bom que acolhe sempre, atende prontamente e só dá coisas boas que visam o bem de seus filhos/as. Na atmosfera há perfume de pão mesmo quando é difícil de engolir porque duro como uma pedra e fragrância de peixe mesmo quando aparentemente sabe a cobra. Em suma, Jesus apresenta a oração num contexto de família, com a linguagem dos afetos mais íntimos e necessários, na trama das relações paternas e maternas, filiais e fraternas. Liberta-a da frieza do formalismo e a insere nas dinâmicas do amor. Desobriga-a do jugo da obrigatoriedade e a aponta como dimensão natural e irrenunciável para quem experimenta Deus como um Pai/Mãe. Purifica-a de palavras inúteis e gestos inconsistentes, porque, como dizia meu pai, quando tem amor verdadeiro basta um simples olhar para se entender. Ajuda-a a passar do monólogo para o diálogo, do excesso de palavras à eloquência do silêncio, da gritaria ensurdecedora à escuta reverente, do interesse egoístico à solidariedade com a comunidade. Apresenta-a como 100% eficaz pois o Pai é digno de confiança. Dá coisas boas aos que lhe pedem. Visa só e unicamente o nosso bem mesmo quando Sua resposta não corresponde às nossas expectativas e não nos concede o que lhe demandamos, porque nem sempre sabemos pedir “coisas boas”. O que são estas “coisas boas”? “É tudo o que nos permite liberar o bem que pede para ser realizado por nós. É tudo o que nos permite de amar até o fim. É tudo o que nos faz crescer em humanidade” (Pe. Flavio Bottaro).
Para rezar, portanto, não precisa frequentar escola de oração. É simplesmente amar e dar tempo para o Amor. O resto é consequência. O diálogo vai fluir normalmente e a caminhada da vida vai continuar de mãos dadas, o/a filho/a confiando no Pai, o Pai feliz de fazer o bem a seus filhos/as e os irmãos e irmãs se irmanando cada vez mais entre eles/as.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)