O desafio de contar África para África
Em 2019, fui enviado para a República Democrática do Congo. Após dez anos em missão no exterior, achei legal oferecer parte da minha juventude no país onde nasci. Voltei feliz. Tinha terminado o curso de jornalismo em Madrid, enquanto trabalhava como redator na revista Mundo Negro, com os diários de missão, que são as experiências dos missionários que trabalham fora da Europa. Também dei entrevistas, escrevi crônicas, notícias e reportagens para aquela revista comboniana. Ali na redação, com outros cinco jornalistas profissionais, eu trabalhava por horas pesquisando na internet ou conversando com meus contatos sobre notícias africanas. Depois, verificava as informações e as melhorava para que soassem melhor aos leitores. Não foi tudo fácil, porque eu tinha que cumprir também minhas tarefas acadêmicas e os compromissos da vida religiosa.
Cheguei a Kinshasa em janeiro de 2020. A equipe de Afriquespoir estava me esperando. Esta revista trimestral começou timidamente há 24 anos com recursos muito precários, mas foi crescendo. Hoje, é bem recebida em círculos cristãos e não cristãos. Publicada em Kinshasa, a revista é distribuída em mais cinco países francófonos, onde nós combonianos estamos presentes: África Central, Chade, Togo, Benin e Camarões.
A nossa presença nos meios de comunicação foi-nos legada pelo fundador, São Daniel Comboni, que viu aqui uma oportunidade de evangelização. Apresentamos as igrejas africanas ao mundo e as do mundo aos africanos. Também contamos a África acerca de sua própria realidade política, social, eclesial… a fim de conscientizar os africanos sobre os desafios do continente e a necessidade de se envolverem na transformação da realidade porque temos a certeza, como Comboni, que os próprios africanos, levantarão o continente.
Nossas grandes dificuldades vêm da realidade política e social: analfabetismo, pouco interesse pela leitura da maioria das pessoas e pobreza. Ninguém compra uma revista quando não tem nada para comer. Por isso, cuidamos bem das assinaturas que temos. Além disso, enviar revistas pelo correio é muito caro. Às vezes chegam ao destinatário depois de muitos meses e até chegam danificadas.
A nossa principal fonte de assinaturas são as paróquias. De 2020 até agora, já visitei cerca de cinquenta paróquias das mais de trezentas, da capital. Aos domingos saimos para a animação missionária, a divulgação da revista e dos livros de nossa editora Afriquespoir. Muitos estudantes dizem que os nossos livros são úteis para seu trabalho acadêmico e os professores também dizem que os ajudam na preparação das suas aulas.
Aproveitamos a nossa presença nas paróquias para conversar com as pessoas, que vêm ver os nossos materiais. Às vezes ficam conosco compartilhando suas experiências ou regateando preços. Muitas crianças e adolescentes, chegam sem dinheiro, mas conhecem e gostam dos livros. Se estão com os pais, as crianças insistem para comprá-los, com a retórica do choro.
Ser jornalista no Congo é difícil. A situação política do país dificulta o acesso às informações oficiais. Às vezes, é preciso propina para conseguir uma entrevista. Felizmente, a realidade fala por si. Por isso, saímos para perguntar às pessoas sobre suas experiências, visitamos paróquias, hospitais, escolas, centros de formação ou abrigos para pessoas em situação de vulnerabilidade. Comunicamos por meio da revista impressa, do site e, às quintas-feiras, em um canal de televisão da Igreja. Assim podemos dar a conhecer a realidade às pessoas e aos políticos.
Lwanga Silusawa, comboniano na Rep. Dem. Congo