O Desafio do Jovem Rico
Conta o evangelista Mateus que, enquanto Jesus andava, um jovem aproximou-se dele e lhe perguntou: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”. O rapaz não tem nome. Mateus quer que cada um/a de nós se identifique com ele. Dele, não sabemos muitas coisas. O evangelista diz que se trata de um jovem, de um ‘bom moço”, que tem dinheiro e aparenta ser instruído, mas não está satisfeito com a vida que leva. Está em busca da vida plena que só o Eterno pode lhe dar. Ele indaga a pessoa certa. Questiona Jesus, pois vislumbra n’Ele o “homem realizado”. Jesus lhe propõe um itinerário. Em primeiro lugar, lhe aponta o caminho tradicional: observar os dez mandamentos. Vale ressaltar que, na resposta, o Mestre não cita os primeiros três que se referem diretamente a Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas, não pronunciar seu santo nome em vão e santificar as festas. Só lembra dos outros, aqueles que dizem respeito à relação com o próximo. O jovem queria estar perto de Deus e Jesus lhe responde que deve amar o próximo. Ninguém pode ficar bem com Deus se não ficar bem com os/as outros/as. Como diz o apóstolo João: “Aquele que não ama o irmão que vê, é incapaz de amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,20). Não tem como driblar isso. O caminho para chegar a Deus é o amor ao próximo. É interessante que o jovem já vem fazendo tudo isso, pelo menos é o que ele diz, mas, de sua angústia, dá para deduzir que ele não está satisfeito. Então Jesus lhe propõe um passo ulterior: “Se tu queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. Praticamente, trata-se de fazer duas coisas: partilhar os bens com os pobres e doar a vida para o Reino de Deus.
O jovem logo se dá conta do tamanho da exigência do Mestre. Não aceita a sua proposta e se distancia dele “porque é muito rico”. Não está disposto a renunciar às suas riquezas. Pode até dar esmolas e fazer beneficência, mas não quer se separar da segurança que o dinheiro lhe proporciona. Vai embora triste, pois não era simplesmente possuidor de muitos bens, mas era possuído pelos bens. Era dominado pela riqueza. Era pau mandado dos bens materiais que possuía. “O dinheiro é um bom servo e um péssimo patrão”, sobretudo quando se torna uma obsessão e é fruto da ganância. Aceitar a exigência de Jesus é difícil. Não é fácil passar da acumulação ao despojamento, da ganância à partilha. O jovem rico estava até disposto a dar esmola e realizar obras de caridade em favor dos pobres, mas sem ter que desistir de suas posses. Mas a Deus não damos nada enquanto não lhe demos tudo.