O escândalo do perdão!
Jesus é cercado por uma multidão. À sua volta estão sentados fariseus e doutores da lei. Mas nessa assembleia falta alguém, justamente aquele que nunca conseguiria chegar até o Mestre por si só e que, portanto, seria condenado a ficar de fora. Mas quatro homens se encarregam de tumultuar essa assembleia que não deixa aproximar-se de Jesus quem não consegue caminhar com suas próprias pernas e precisa ser carregado (Lc 5,17-26). Os quatro homens desafiam a si mesmos, as barreiras arquitetônicas e ideológicas e todos os “doutores da Lei” que agem como “aduaneiros” de Deus, atribuindo-se abusivamente a função de fiscalizar o acesso a Ele. Pegam o leito do paralítico, sobem em cima do telhado, arrancam as telhas e o descem bem no meio da assembleia para apresentá-lo a Jesus. Até o Mestre fica admirado com a ousadia da fé destes homens. Pessoas que “vêm de fora” abrem uma brecha nas estruturas consolidadas e fechadas, para liberar o acesso a Jesus àqueles/as que não conseguem ou são impedidos de chegar até Ele. A primeira boa notícia vem de fora para dentro, vem com os quatro homens. Eles mostram que a pessoa de fé autêntica nunca vai sozinha para Deus, nem O procura exclusivamente para resolver seus problemas pessoais. Sai ao encontro do Pai carregando sobre si as dores e as esperanças dos outros, sobretudo dos “excluídos”. Enfrenta qualquer obstáculo para apresentar-lhe o sofrimento do mundo que tanto interessa a Jesus, ao ponto d’Ele interromper tudo o que está fazendo para atender o “paralítico” prioritariamente. Não adianta ficar perto de Jesus o tempo todo, cercá-lo de grandes multidões e reservar-lhe uma calorosa acolhida, se não sabemos dar conta do irmão/ã que está do lado de fora não porque quer, mas porque foi “excomungado”, excluído e descartado. “Onde está teu irmão?”, pergunta Deus a Caim que tenta distrai-lo e enganá-lo com a fumaça de seus sacrifícios. “Que fizeste! – insiste Deus – Eis que a voz do sangue do teu irmão chama por mim desde a terra!”. A súplica de quem foi “eliminado” atrai a atenção de Deus mais do que a oração de quem está “dentro”, sobretudo quando, apesar da proximidade com Jesus, continua com pensamentos errados dentro de seu coração. As pessoas que carregam o paralítico representam a igreja samaritana, a comunidade solícita e amorosa, sempre de portas abertas, que, como um “hospital de campo”, cuida das feridas das pessoas através do exercício da misericórdia e contribui com a construção de um mundo mais acolhedor e fraterno.
A segunda boa notícia vem de Jesus. É o perdão incondicionado. Não precisa de méritos, sacrifícios e expiações para recebê-lo. Basta-lhe o testemunho de fé dos “quatro homens’ que se fizeram cargo do paralítico. É uma fé que não se desespera, mas anima, dá força e coragem. É uma fé criativa, que não fecha as portas a ninguém, mas gera oportunidades para que todas as pessoas tenham acesso a Jesus, independentemente de sua condição atual. É dessa fé que Jesus gosta. A reação dos escribas e fariseus, ao contrário, é a murmuração. A fé dos “funcionários do sagrado” é burocrática e legalista”. Para “os de dentro” o perdão incondicionado é uma blasfêmia. Para eles só Deus tem o poder de perdoar os pecados e não perdoa sem merecê-lo, sem condições, sem ganhá-lo à custa de sacrifícios e rituais de expiação. Resistem a reconhecer e acolher o Deus da Graça que está disposto a qualquer coisa, até mesmo a morrer na cruz por “aqueles que não merecem”, para libertar e salvar a humanidade. Sua maior alegria é poder devolver a liberdade ao ser humano e garantir-lhe a oportunidade de caminhar com suas próprias pernas para voltar para CASA. Quanto dói essa liberdade para quem gosta de dominar as pessoas e suas consciências. E quanto é assustadora “A VOLTA PARA CASA DE QUEM NÃO MERECE” para quem faz questão de colocar os/as outros/as para fora. Bom dia.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)