O Evangelho não é Causa Perdida
Apesar da rejeição, Jesus não desiste. Em vez de largar tuto e retirar-se à vida privada, faz a opção de sair em missão. Dirige-se a outras cidades para anunciar o Evangelho. É uma característica da Igreja. A perseguição, em vez de intimidar as comunidades cristãs, move-as para outras direções, de tal modo que a rejeição de uns se torna uma oportunidade de evangelização para outros. Para aqueles que são apaixonados pelo Evangelho não há espaço para medo e covardia, não porque são super-heróis, mas porque confiam n’Aquele que os envia. O oposto do medo, para o cristão, não é a coragem, mas a fé.
A monte do ardor missionário de Jesus tem a ânsia de salvar a humanidade que corre o risco de naufragar nos abismos do mal. Ele é a mão estendida por Deus para amparar as pessoas do risco de se afogarem em projetos que nada têm a ver com o sonho de Pai. Na origem de sua missão, portanto, não há um plano para expandir o poder de Deus, mas a compaixão da Trindade para conosco. Mateus diz isso claramente no início do discurso missionário de Jesus: “Quando viu as multidões, sentiu compaixão por elas, porque estavam cansadas e exaustas, como ovelhas sem pastor” (9, 26). A missão não nasce de uma mania de grandeza, mas de uma paixão de amor. Ela brota do coração de um Deus que visa exclusivamente o nosso bem.
O Mestre, porém, sabe que sozinho não dá conta. Por isso envolve todos os seus discípulos. O anúncio do Evangelho não é uma atividade exclusiva dos ‘profissionais da missão”, mas de todos/as os/as batizados/as. Não é uma das muitas atividades da Igreja, mas é a sua identidade. A Igreja é essencialmente missionária. Não está a serviço de si mesma, mas é sacramento do Reino de Deus. Ela existe para anunciar o Evangelho. Se não o fizer, trai sua identidade.
Aos apóstolos associados à sua aventura, Jesus não entrega um complexo sistema doutrinário, mas o anúncio da presença paterna e materna de Deus: “O Reino de Deus está Próximo”. Trata-se de uma presença qualificada pelo Espírito que se torna concreta através do testemunho. Daí a insistência de Jesus sobre o estilo de vida dos/as missionários/as. Eles não são mandados em missão porque pregam bem, mas porque vivem à maneira de Jesus conforme aprenderam na convivência com ele. O Evangelho não é um discurso a ser proferido, mas um projeto a ser assumido. Cuidar do estilo de vida não é uma opção, mas uma exigência. Os verbos utilizados pelo Mestre são todos ao modo imperativo. Expressam uma ordem, não uma simples sugestão. Jesus dispõe que eles saiam pelo mundo afora andando juntos, pois a relação fraterna é já por si mesma um ato de salvação capaz de transformar vidas. Seu estilo de vida deve ser simples, pobre, desarmado, sem meios, sem fardos pesados, sem preocupações consigo mesmo e sem ânsias pelo futuro. Sua única preocupação deve ser aquela de transmitir de boca em boca o Evangelho para que ninguém fique excluído do banquete do Reino. Não basta uma Igreja para e com os pobres: é cada vez mais necessário formar uma Igreja pobre. Não quer que seus discípulos se deixem seduzir pela mania de grandeza, cortejar pelo poder e vislumbrar pelo dinheiro, mas que sejam sinais do estilo de Deus. Relativizar os meios significa atestar que a missão não é, antes de tudo, a conquista das almas, mas o sinal de Deus que entra na história e vem ao nosso encontro de maneira frágil e vestindo o avental do serviço.
É bom não se iludir. É provável que, ao longo do caminho, os/as missionários/as encontrem resistência e até rejeição. Nada de desanimar. Nada de agredir, ameaçar, recorrer à violência e desejar vingança. O Evangelho não se impõe pelo medo e a violência. A imagem da poeira sacudida pelos pés é decisiva: se alguém não quiser ouvir a Palavra, não precisa insistir. O jeito é continuar o caminho sacudindo dos pés a amargura e a frustração da rejeição, sabendo por certo que nada e ninguém podem parar o Evangelho.
Pode acontecer que, em certos momentos, sobretudo quando a reação do mundo se torna ódio, que o medo prevaleça sobre a confiança que deveria vir da presença de um Deus que escolheu tornar-se nosso companheiro de viagem. Jesus, por bem três vezes, repete de não se preocupar. Não há situações que Deus não possa partilhar conosco. Qualquer que seja a dificuldade, Ele sempre estará ao nosso lado. A nossa confiança não vem dos nossos talentos, das alianças com os poderosos ou do tamanho dos meios a nossa disposição, mas reside apenas na certeza da companhia de Deus, que nunca falha, mesmo nos piores momentos da nossa vida missionária. O Evangelho não é causa perdida. Não é um projeto humano, e sim de Deus, que dará força e coragem aos/às que se comprometem com ele.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)