O Exemplo de Fé que Vem de Fora
Jesus não para de surpreender. Depois de ter conversado, alguns dias atrás, com uma mulher samaritana, considerada herética pelos judeus, agora, na Galileia, recebe um pagão, funcionário do rei, que procura ajuda para seu filho gravemente doente (Jo 5,1-16). Esses encontros “ad extra” revelam a sua identidade missionária. É verdade que Ele foi enviado prioritariamente ao povo da Judeia, cujo centro religioso era Jerusalém, mas não fica preso nos restritos limites de sua terra, até porque não foi bem acolhido pelos seus conterrâneos. Jesus é ecumênico e acolhe a todos. A salvação proposta por Ele não é privilégio de ninguém. Não depende de méritos, nem tampouco de direitos adquiridos por questões étnicas e religiosas. É para todos. O único requisito para ter acesso a ela é a fé livre do condicionamento dos “efeitos especiais”. Ele quer uma confiança que não seja determinada por sinais milagrosos, uma fé que se baseia exclusivamente em sua Palavra. A fé verdadeira é aquela que nos conduz até Jesus e torna possível a acolhida de seu Evangelho. É isso que faz o funcionário do rei. Sai ao encontro de Jesus e lhe pede que cure seu filho gravemente doente. “Senhor – suplica –, desce, antes que meu filho morra”. “Podes ir – responde Jesus –, teu filho está vivo”. Nada de gritaria. Nada de ostentação. Nada de espetacular. Nada de multidões delirantes e fanáticas. Nada de impostores preocupados mais com sua imagem e com o caixa do que em servir o Evangelho. Tudo acontece discretamente. Basta a Palavra, não gritada, pronunciada com o fio de voz. E o homem, conta o evangelista João, acreditou na Palavra de Jesus e foi embora. Não precisou conseguir as provas da cura para acreditar. Bastou-lhe a Palavra de Jesus. Foi em virtude desta fé que ele, ao descer rumo à sua casa, recebeu a notícia da cura de seu filho, que aconteceu exatamente na hora em que o Mestre lhe havia dito que seu filho estava vivo. Uma fé assim não é fácil. Os galileus que o haviam recusado, agora o recebem porque tinham visto tudo o que Jesus havia feito em Jerusalém. Eles precisaram de sinais e prodígios para acreditar nele. Mas Jesus não releva este tipo de fé interesseira. Também nós corremos o risco de cair nesta cilada. Não é fácil para nós estarmos satisfeitos com a Palavra de Jesus. Exigimos sinais concretos para ter fé. É interessante reparar que o evangelista João conclui dizendo: “Este foi o segundo sinal que Jesus fez”. Prefere falar de um sinal e não de um milagre. A palavra sinal evoca algo que vejo com meus olhos, mas cujo significado profundo só a fé me faz descobrir. A fé é como os raios X: revela o que não pode ser visto a olho nu” (Casa de Oração São Brás). É esta a lição daquele “pagão”, muito mais perto de Jesus do que nós, que nos apresentamos como “crentes”. A sua fé nos sirva de exemplo, como aquela de tantas pessoas que creem sem pertencer aos nossos círculos religiosos. É bonita a igreja assim, sem paredes que separam, aberta a todos, onde congregam pessoas que têm fé de verdade. “A igreja do meu coração – escreve Irmã Maria de Campello – é a igreja invisível que sobe às estrelas, que não é dividida pela diversidade de raças e cultos, mas é composta por todos os buscadores sinceros da verdade.” (Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)