
O mestre da verdade é o espírito do amor
Jesus, com a sua vida, morte e ressurreição, contou-nos tudo o que tinha para nos dizer e deu-nos tudo o que desejava doar. Ou seja, nos revelou e nos doou o amor absoluto de Deus. No entanto, o amor nem sempre é totalmente dito e nem sempre é completamente compreendido. No amor há sempre algo a mais que não se consegue expressar com palavras e que só quem ama pode compreender. Só à luz do amor é possível entender o amor. Somente o Espírito Santo, que é amor, nos faz compreender as palavras de Jesus e tudo aquilo que elas não conseguem expressar. Sem ele, é como falar de amor a um egoísta ou discorrer sobre cores com um daltônico (p. Silvano Fausti). Quem não ama não pode entender do que está se falando. O Evangelho tem a linguagem, a gramática e a matemática do amor. Precisa estar antenado com o amor para compreendê-lo. O melhor intérprete de Jesus e de Sua Palavra é o Espírito Santo. Ele entende bem de amor. Não só traz à tona toda a verdade, mas nos conduz a compreensão de toda a verdade. Ele não diz nada a mais daquilo que Jesus disse. Pois já está tudo dito. Ele repete e interpreta aqui e agora tudo o que Jesus disse quando esteve no meio de nós. Ele nos recorda, isto é, coloca de volta em nossos corações o amor de Deus que Jesus nos revelou, até que nós nos tornemos uma lembrança viva de Seu amor. Seu poder é fazer-nos entrar na verdade que Jesus revelou até que nos tornemos memória viva de Cristo e assumamos a nossa condição de filhos/as. A verdade que o Espírito nos mostra não é uma ideia abstrata, uma fria teoria, uma ideologia, mas é a pessoa de Jesus. A fé não é uma adesão intelectual e formal a um conceito, mas é uma relação de amor que transforma a vida e lhe dá o sabor da plenitude. Em matéria de amor deve prevalecer a liberdade. É por isso que a estratégia que o Espírito usa para nos conduzir à verdade não é aquele da força, arrogância e impaciência, mas da ternura, humildade, respeito e amor. O Espírito nos leva de volta para nossa casa, para dentro da Trindade, para que possamos participar da mesma relação de amor que existe entre o Filho e o Pai. É nesse ambiente de amor caseiro que o Espírito nos proporciona é que procuramos, compreendemos, acolhemos e vivemos a verdade. Onde não há amor não há verdade. Onde não há fraternidade, não há memória viva do Evangelho.
A profecia do cristão, portanto, não é ter saudade das tradições do passado, dizer coisas estranhas sobre o presente ou fazer previsões para o futuro. A profecia cristã é a memória do passado de Jesus, daquilo que aconteceu com o Filho de Deus, que é também o nosso presente e o nosso futuro. É trazer para hoje e para sempre o que Jesus fez e disse para aconteça conosco hoje e sempre. É atualizar com criatividade a Sua proposta de Amor. Deixemos que o Espírito aja em nós, sem medo de novidades. “O depósito da fé que a Igreja guarda com paixão e fidelidade está em movimento contínuo. As coisas ditas permanecem, mas nossa maneira de entendê-las evolui. Portanto, verdades definidas e definitivas não são imóveis, mas cheias de vivacidade e fecundidade. O mesmo Evangelho lido milhares de vezes ao longo da história dá-nos novos significados, doa-nos nuances inesperadas. A verdade se enriquece, ganha novas linguagens, permanece a mesma com novas palavras. Assim também acontece com a nossa vida de fé: quando imaginamos que compreendemos o suficiente, quando pensamos que já sabemos tudo, quando cremos de ter chegado ao ponto final, chega o Espírito e move tudo, bagunça o coreto, detona nossas certezas e nos faz apreender verdades ocultas e inesperadas. Pode parecer assustador, mas é parte bonita da vida. A nossa existência é uma jornada contínua, cheia de surpresas” (Paolo Curtaz). A coisa melhor é não opor resistência, mas encantar-se e deixar-se colocar em discussão. A renovação do Espírito é fonte de vida.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)