O Pão que Alimenta Nossa Fome de Plenitude (Jo 6,22-29)
“Mestre, quando vieste aqui?”. É esta a reação do povo quando, até que enfim, depois de tê-lo procurado por todo lado para proclamá-lo rei após ter visto a multiplicação dos pães e dos peixes, encontra Jesus no outro lado do mar, na cidade de Cafarnaum. Na verdade, não é isso que as pessoas querem saber. As perguntas que atormentam seus corações são outras: “Jesus, podemos contar com você quando temos problemas? Você vai nos ajudar a superá-los? Se você não nos ajuda a resolver nossos desafios materiais, de que adianta tê-lo conhecido?”. Essa constatação não é minha. É o próprio Jesus a chegar a esta conclusão: «Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes daqueles pães e peixes e vos satisfizestes».
Não fiquemos escandalizados. As expectativas daquele povo são semelhantes às nossas. De que adianta acreditar em Jesus se não faz milagres? Muitas vezes não procuramos por Ele. Estamos atrás do “pão e do peixe”. Não estamos interessadas em sua proposta de vida, mas em resolver nossas encrencas. Muitas de nossas orações e cultos são assim. Reduzem-se aos rosários dos nossos problemas, às ladainhas das nossas lamúrias, às listas dos nossos pedidos. Não são feitas de silêncio para ouvir Deus falar, conhecer sua vontade e se dispor a cumpri-la, mas de gritaria ensurdecedora para pedir respostas a questões que dizem respeito ao restrito mundo dos nossos interesses imediatos. A coisa mais engraçada, para não dizer dramática, é que pessoas que dizem priorizar as “coisas do alto”, criticam aqueles/as que se ocupam dos “desafios terrenos” em detrimento daqueles “celestes”, acham que temas como fome, preservação do ambiente, direitos humanos, justiça socioeconômica e outros desafios que ameaçam a dignidade e a vida dos/as empobrecidos/as neste mundo distraem dos assuntos da Vida Eterna, são os/as primeiros que, quando os desafios terrenos apertam, recorrem, a Deus para que cuide de “seus interesses materiais” e os mantenha sãos e salvos nessa vida adiando a hora da passagem para a Eternidade (kkkkk). É fácil pensar no além, quando o aquém está bem abastecido e garantido por força dos recursos disponíveis ou por milagre divino.
Quando não se consegue dobrar Deus a seus interesses, até os/as mais fervorosos/as abandonam a fé ou saem à procura de alternativas de igrejas e líderes religiosos mais poderosos. O mercado religioso hoje em dia apresenta uma vasta gama de ofertas. Um Deus que não faz milagres é inútil. Uma igreja que não faz prodígios não interessa. Queremos um Deus e uma Igreja que nos satisfaça em nossas necessidades imediatas. O Deus e a Igreja que insistem na mudança de vida pessoal e social na perspectiva do Reino de Deus incomodam. O Deus e a Igreja que desafiam a começar aqui e agora a construção do mundo novo a partir dos valores do Evangelho não encontram espaço no mundinho construído sob medida de nosso individualismo e egoísmo.
Jesus também deseja nossa satisfação. Ele veio para que todos tenham vida em abundância. É por isso que oferece o alimento necessário para alimentar nossa fome de plenitude. A vida que nos realiza é aquela do Eterno, partilhada e doada, assim como Ele viveu. Portanto, o único jeito para sermos felizes de verdade é acreditar naquele que o Pai enviou, isto, é, assimilar o Projeto de Vida de Jesus de Nazaré, pois, desde já, sentiremos o gosto da verdadeira Vida.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)