O PECADO IMPERDOÁVEL POR VONTADE HUMANA
Uma comissão chega de Jerusalém. É formada por “mestres da lei’. Originalmente, eram aqueles que sabiam ler e escrever, mas, ao longo dos séculos, passaram a ser considerados os autênticos intérpretes da Palavra de Deus. Ninguém ousava colocar em discussão sua autoridade. Eles têm a missão de investigar Jesus, o Nazareno. Na realidade, já têm um veredicto: “Jesus está possuído por belzebu”. Expulsa demônios porque Ele mesmo é um demônio. O Mestre não desanima. Está acostumado a interpretações distorcidas a respeito de sua identidade e missão. Já fora chamado de “doido” por seus familiares. Agora a acusação é mais pesada: “é um impostor”, “é um endemoniado”. “Atua para espalhar confusão e divisão na comunidade”. Jesus, tenta se defender usando os mesmos argumentos deles: “Como é que satanás pode expulsar a satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído”. O diabo gosta de dividir. Ele é burro em matemática. Não conhece as quatro operações aritméticas. Não sabe nada a respeito de adição e multiplicação. Só gosta de subtrair e dividir. Para executar seus planos, mente descaradamente e confunde a cabeças de suas vítimas. Mesmo sendo o “pai da divisão”, age de maneira compacta. Busca aliados e os une ao seu redor para ter mais força. Infelizmente, não é isso que acontece com o Bem. Paradoxalmente, os “filhos das trevas” são mais expertos e mais unidos dos que os “filhos da luz”.
O raciocínio do Mestre segue uma lógica dedutiva. A conclusão é óbvia: se Ele expulsa os demônios, não pode ser um deles. Entre o Bem e o Mal não há acordo. Jesus tem lado. Escolhe a Vida, o Bem e a Verdade. Os fatos demonstram que Ele quer acabar com tudo aquilo que aliena o ser humano e o desumaniza. Mas os doutores da lei não desistem de seu ponto de vista. Não adianta argumentar com quem não quer ouvir e fica trancafiado em seus preconceitos. Eles caíram na cilada do diabo: fecharam o coração à ação do Espírito e deixaram que belzebu confundisse suas cabeças ao ponto de não conseguirem mais distinguir o bem do mal.
A conclusão de Jesus é dura: “Em verdade vos digo, tudo será perdoado aos homens… Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado; será culpado de um pecado eterno”. A blasfêmia contra o Espírito tem tudo a ver com o endurecimento do coração. Fechar-se teimosamente ao Amor de Deus e à Sua Graça mata o Espírito e é imperdoável. Deus faz o que pode. Não pode obrigar ninguém a acreditar nele e no Filho que Ele enviou. “Não há limites para a misericórdia de Deus – afirma o Catecismo da Igreja Católica -, mas quem recusa deliberadamente receber a misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo” (CIC 1864). Este é o pecado imperdoável por vontade nossa e não de Deus: fechar-se ao dom do Amor e da misericórdia, perder a esperança na salvação ou crer que não precisamos dela. Pensar e agir com a convicção de que não necessitamos ser amados e perdoados por Deus e pelos/as outros/as. Vem, Espírito Santo, enche os nossos corações e acende neles a chama de Teu amor.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)