O que Deus quer?
Na época de Jesus as doenças eram consideradas um castigo de Deus. A pior de todas era a “lepra” que atualmente chamamos de hanseníase para acabar com os preconceitos que ainda sofrem as pessoas afetadas por ela. A “lepra” era considerada literalmente uma desgraça. A pessoa com hanseníase era vista como a encarnação do pecado. Sua aparência externa deformada era interpretada como sintoma da podridão interior. Os ministros da religião oficial pregavam que era vontade de Deus que estes pacientes fossem declarados impuros e mantidos segregados. Portanto, além de sofrerem o estigma da comunidade, os “leprosos” eram induzidos a crer que era desprezados também por Deus. Só poderiam voltar a Ele e ao convívio comunitário depois da constatação da cura feita por sacerdotes. É esta a razão do forte preconceito que passou de geração em geração e resiste ainda hoje, apesar de ser uma doença facilmente curável.
Mas nem todo mundo abaixa a cabeça e obedece passivamente. O evangelista Marcos nos apresenta um “leproso” que ousa desafiar essa crença (Mc 1,40-45). Inconformado com a “religião oficial”, quebra as regras, se aproxima de Jesus e o coloca, literalmente, na parede questionando-o a respeito da doutrina tradicional sobre a vontade de Deus. Ajoelha-se diante dele e exclama: “Se tu queres, tens o poder de curar-me”. A expressão é muito mais do que um pedido de ajuda. É a senha que dá acesso aos segredos do coração de Deus. É a súplica de quem está sedento de saber o que Ele pensa e quer de verdade. Jesus responde de imediato com uma reação física. Ao contrário da rejeição dos sacerdotes e dos fiéis tradicionais, sente compaixão. Não se trata de um simples sentimento, mas de um arranhão no profundo da alma, uma ferida que se abre nas entranhas. Fica indignado. Sofre intimamente ao ouvir e constatar o tamanho das aberrações atribuídas ao Pai. Depois estende a mão e o toca, indo contra toda lei discriminatória e todas as medidas prudenciais. É um escândalo. Acaba com tudo o que a religião oficial ensinava. Os gestos chegam antes das palavras. Escandalizam ainda hoje. O leproso pode aproximar-se de Deus antes de ficar curado, porque Deus nunca saiu de perto dele. Discriminação e segregação não combinam com sua bondade. A cura acontece justamente pela presença solidária. Começa pela acolhida em vez da exclusão, pelo abraço no lugar da rejeição. Só depois vem a Palavra, “a pedra angular sobre a qual se fixa a nova imagem de Deus” (Ermes Ronchi): “Eu quero: fica curado”. Eis o que Deus quer. Deus se importa com ele e com todas as pessoas que sofrem. Padece com elas. Envolve-se na sua dor, sobretudo aquela causada pelo desprezo e a exclusão. Deus é sumo bem. Deseja o bem de todos seus filhos e filhas, independentemente da situação em que se encontram. Aos seus olhos ninguém é desprezado. Todas as pessoas podem chegar a Ele com suas bagagens de sofrimentos físicos, psicológicos, morais… e encontrarão nele o abraço do Pai e o colo da Mãe. Não precisa estar em dia com suas “obrigações” para se aproximar dele. Ele não tem nojo de estender a mão e tocar as nossas misérias. Deseja ardentemente a nossa felicidade. Ele quer que todas e todos tenham vida em abundância. Essa é a indiscutível vontade de Deus. Excluir, desprezar, discriminar, odiar… não constituem a vontade de Deus. Aproximar, abraçar, acolher, inserir, promover e defender a vida são as ações que têm tudo a ver com aquilo que Deus mais deseja.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)