O Que Me Dareis se Vos Entregar Jesus?
É feio quando começamos a baratear o amor, a calcular o tempo dedicado às pessoas, a cobrar o que conquistamos para alguém, a jogar na cara o que fizemos e a recriminar o outro pela falta de gratidão e por não recebermos nada em troca. Quando começamos a avaliar quantitativamente o amor, significa que aquele amor está chegando ao fim. Quando nosso amor segue as leis da economia de mercado, então é evidente que não estamos amando como Deus ama. Ao transformar o amor em mercadoria, mais cedo ou mais tarde, acabaremos trocando-o por outra experiência mais benéfica, por outra relação mais vantajosa, por outras pessoas que combinam mais com nossos interesses. O amor que se torna negócio, como toda e qualquer operação comercial, visa o maior lucro. Portanto, não é amor, mas egoísmo disfarçado. Se, antes de amar, calculo se vale a pena amar e, ao ver que não vale, desisto de amar, não estou optando pelo amor, mas pelo que mais pode me beneficiar. Às vezes o amor não é interessante. Não dá nada em troca. Não é lucrativo até do ponto de vista afetivo. Parece um investimento a fundo perdido. Mas é sempre melhor amar desinteressadamente. Viver amando por interesse nos faz viver uma vida infernal. O Paraíso, ao contrário, é viver pelo bem do outro e fazê-lo feliz, custe o que custar. O ganho é a alegria de amar. “Um coração feliz – dizia Madre Teresa de Calcutá – é o resultado inevitável de um coração ardente de amor”. O amor é uma superabundância que excede o raciocínio, é uma excedência que extravasa os meros cálculos. Tem razões que só o coração pode entender.
Seria ruim acordar uma manhã e, por não ser capaz de amar desinteressadamente, ter que dizer para si mesmo, olhando-se no espelho, “teria sido melhor nunca ter nascido”. Judas abandona Jesus quando não lhe é mais conveniente. Acha que estando com Jesus não se ganha nada do que o mundo propõe como vantajoso. A vida conforme o Evangelho é em descida, não em subida. É um caminho de espoliação até encontrar-se nu em cima de uma cruz. Para andar com ele, é necessário renunciar a muitas coisas. É necessário amar até o fim, até às últimas consequências. Não é isso que quer Judas. Talvez sonhasse com poder, prestígio, sucesso, reconhecimento público, aplauso e glória. Estava inconformado com o comportamento de Jesus. Queria que agisse conforme sua ideologia. Não aceita sua maneira despojada de ser o Messias. Seu amor por Jesus estava condicionado pelos seus interesses. Combina, então, trinta moedas para entregá-lo. Usa Jesus para ganhar dinheiro. Vende-o a quem oferece mais. Entrega-o ao poder político, econômico e religioso que fala de Deus, mas não quer amar como Deus ama. Usa a religião para se enriquecer às custas da boa fé do povo. Consegue tornar-se famoso. Será lembrado no tribunal da história como traidor, mau exemplo de todas as pessoas que vendem o Evangelho em troca de poder, sucesso e dinheiro.
Na véspera do Tríduo Santo, devemos nos perguntar: por que amamos? Amamos por interesse ou porque estamos convencidos de que amar como Deus ama é a única maneira de sermos gente de verdade? Amamos o deus que está na nossa cabeça e é bom quando faz o que nos interessa ou o Deus que se revela na Cruz como o amante desinteressado que dá a vida por nós? Uma das coisas que sempre me impressionou na cena da crucificação é que, apesar de ter o poder de descer da cruz, Jesus decide ficar. Demonstra que é Deus justamente porque fica, porque ama até o fim, mesmo que esse amor, naquele momento, pareça não ter nenhum resultado, a não ser a sua solidão.