O rio do sínodo inunda a vida da igreja: Roma na Amazônia?
As águas do grande rio do Sínodo correram para o oceano… Ainda há muito a fazer. Aguardamos agora a Exortação Apostólica do Papa Francisco, prometida por ele até o final do ano; iremos partilhar com as comunidades amazônicas intuições, pistas de ação e de colaboração. Cristo continua a indicar a Amazônia, como desafio e oportunidade. Vamos continuar!
Pe. Dario com crianças, festejando a aprovação e o início dos trabalhos do novo assentamento em Piquiá da Conquista, MA
As águas do grande rio do Sínodo correram para o oceano: chegamos ao fim de três semanas de intenso discernimento.
Eu sinto que este Sínodo oferece uma enorme contribuição para o mar da Igreja Católica, que é enriquecido com as cores e sabores da vida da Amazônia; assim como o Amazonas recolhe água de muitos afluentes, este Sínodo também favoreceu o encontro de muitas experiências, da América Latina e das Igrejas de outros continentes.
Assim como um rio, esta Assembleia teve seus altos e baixos, suas acelerações e seus obstáculos. Mas o Espírito de Deus nos guiou: sentimos esse Espírito presente, ativo e vivo, no sentimento de fraternidade e comunhão com as quais o Sínodo se desenvolveu. A percepção da urgência do drama amazônico e da emergência socioambiental e climática é clara e forte. A Igreja responde com escuta, o que não é uma atitude passiva, mas uma profecia de reunião, diálogo e aliança com os mais pobres, que esse modelo econômico condena à morte.
‘Aliança’ é uma palavra-chave, que ressoou muito durante o período de consultas sinodais, quando ouvimos milhares de pessoas e centenas de comunidades panamazônicas. Elas sonhavam com uma igreja feita presença, permanecendo próxima das vítimas. E o Sínodo respondeu à altura. E com decisão.
Juntamente com as comunidades, em defesa de seus direitos e territórios, a Igreja agora assume com maior consciência e profundidade o paradigma da ecologia integral. Porém, viver a ecologia integral na Amazônia significa, para a Igreja, a sociedade, a política e para diferentes modelos econômicos, reconhecer a urgência da conversão. Eis porque o Documento final tem a conversão com fio condutor, porque retrata uma Igreja que escuta e reconhece que ainda tem muito que mudar e aprender. Em vez de ensinar o caminho, a Igreja Amazônica quer ser a primeira a mudar: reconhece que deve estar mais aberta ao diálogo intercultural e inter-religioso; assume o compromisso da conversão ecológica, para a qual existem propostas muito concretas; e adquire coragem e firmeza para se aproximar das vítimas e das pessoas ameaçadas.
Além disso, nessa atitude de conversão, a Igreja abre espaços para novos ministérios, na criatividade do Espírito, com a inspiração e constante nutrição da Eucaristia, definida como “sacramento do amor cósmico”, um encontro de todas as criaturas na celebração da Páscoa. No Sínodo, também reconhecemos uma visão “curta” em relação às mulheres. Aqui está outra conversão, urgente e necessária. O Papa Francisco se refere a isso quando, no discurso final, ele aceitou o desafio das mulheres: “queremos ser ouvidas!”
Se encerra agora o que podemos considerar a segunda etapa do Sínodo: a primeira foi tecida na escuta das comunidades locais. Esta segunda fase foi de discernimento, uma reunião entre os pastores da América Latina e outros do resto do mundo. A terceira é a fase da restituição dos resultados da assembleia sinodal a todas as comunidades.
Ainda há muito a fazer. Mas somos encorajados pela força da comunhão eclesial que vivemos neste mês de outubro. Sentimos o poder do Espírito Santo, que confirma os passos da Igreja. Também o vigor do papa Francisco atraiu nossa atenção. Mas acima de tudo a voz de mulheres e povos indígenas, que ressoava com dignidade e firmeza nas salas do Vaticano e desencadeou novos processos irreversíveis, dentro da Igreja.
Aguardamos agora a Exortação Apostólica do Papa Francisco, prometida por ele até o final do ano; iremos partilhar com as comunidades amazônicas intuições, pistas de ação e de colaboração. Cristo continua a indicar a Amazônia, como desafio e oportunidade. Vamos continuar!
Dario Bossi, comboniano e padre sinodal