
O Silêncio que Revela Deus: Uma Reflexão sobre a Missão Profética de Elias
Cadê Elias?
Depois de se afastar da cidade, de cruzar o deserto, de subir à solidão da montanha, de descobrir a ausência de Deus nos elementos tumultuosos, finalmente, acabada a agitação, Elias descobre que é o silêncio que traz a presença de Deus. É uma daquelas surpresas de Deus que nos encantam, como quando, na noite silenciosa de Natal, contra as expectativas messiânicas de seu tempo, surpreende o mundo ao revelar-se na criança pobre enrolada em faixa e deposta na manjedoura. Como é bom contemplar um Deus que toma distância dos grandes eventos e se apresenta na simplicidade e com humildade. Vale a pena resgatar isso, em tempos em que a fé está se tornando espetáculo e os supostos ministros de Deus fazem questão de mostrar poderes extraordinários para atrair multidões. Que a experiência de Elias nos ajude a tomar distância do tumulto, da gritaria, dos shows da fé e dos trios elétricos ensurdecedores para amar a maneira humilde e silenciosa que Ele escolhe para ficar e conversar conosco.
Mas, ao ler a experiência de Elias, um outro questionamento me atormenta. Onde está Elias? Cadê a sua profecia? Sobre qual ombro hoje em dia caiu o seu manto? Quem tem ainda a coragem de recolhê-lo e vesti-lo para dar continuidade à sua missão profética?
Infelizmente o manto de Elias está cada vez mais “fora de moda” assim como o avental que Jesus usou na Última Ceia. Insígnias clericais e luxuosos paramentos litúrgicos ocupam seu lugar.
Jesus encarnou o Deus de Elias. Assumiu plenamente Sua missão profética. O mundo precisa de pessoas que tenham a coragem de recolher esse legado. Obrigado a todos os homens e mulheres que, mesmo correndo o risco de morrer, mantêm atitudes proféticas a exemplo de Elias e Jesus.
A profecia faz medo até dentro da própria Igreja, pois incomoda, desinstala, arrebata, cria conflito, traz problemas, coloca em risco privilégios, mina alianças e pode levar à dramática experiência do isolamento, mas é a energia que renova continuamente a Igreja, o fogo que a purifica e o olho vigilante que a mantém fiel ao projeto de Deus.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)