O sinal de Deus
Jesus não fica à vontade com o assédio das multidões. Não surfa na onda do sucesso. Em vez de agradar o público e atender às suas expectativas para alcançar maior fama e aumentar o número dos seus seguidores, lança desafios e provocações. Ele não se faz ilusões. Muitos daqueles que o procuram estão acostumados a correr atrás das promoções religiosas mais “baratas” e mais “vantajosas”. Na verdade, não estão interessados n’Ele, mas olham com ganância mal disfarçada para os prodígios que realiza. Estão em busca da solução milagrosa a seus problemas pessoais e familiares. Assistem com interesse ao show porque ameniza os problemas, mas não veem a verdade que questiona a vida. Cantam hinos emocionantes e invocam, aos gritos, o nome do Senhor, mas não enxergam quem está diante de seus olhos. Não querem aceitar que a salvação tem os traços de um homem, que Deus se faz carne, que é o filho de Maria e do carpinteiro o Messias tão esperado, que é em Jesus de Nazaré que Deus se aproxima do ser humano para salvá-lo.
Eles ainda sonham com o Deus todo-poderoso, Senhor dos Exércitos, valoroso em batalha, que faz o gosto de seus fiéis, concede prosperidade e vitória aos justos com os quais se identificam, e condena à miséria e à morte os malvados, que são sempre os outros. Jesus não mede palavras quando fala deles. Chama-os de “geração má”, que busca o tempo todo um sinal de grandeza e poder (Lc 11,29-32). A massa não reconhece a salvação de Deus vivo e atuante no mundo, aqui e agora, através do Filho do Homem. O sinal já foi dado, na noite de Natal: a criança envolta em faixas e deposta na manjedoura. Mas naquela hora não tinha multidões. Havia somente um grupo de malfadados pastores de ovelhas e uma turma de Magos que veio de longe. Certas verdades não atraem as multidões. Um Deus que se faz menor, pobre e periférico não interessa, pois é fraco demais. O mesmo acontecerá quando será dado o sinal dos sinais: o crucificado pendurado na cruz. Também naquela oportunidade não aparecerá ninguém, exceto algumas mulheres e uns poucos discípulos. Inclusive, aquelas multidões que os seguiam por causa de seus milagres, venderão a alma ao diabo. Xingarão Jesus quando se defrontarão com sua desarmante impotência, pois lhes parecerá loucura acreditar num Deus que não é capaz nem de salvar a si mesmo.
Estes círculos viciosos se repetem na história. Em todas as épocas, inclusive na nossa, vemos Jesus cercado por multidões de pessoas míopes e fanáticas que correm atrás dele para fazer seus interesses, realizar seus sonhos, amenizar suas dores, pagar suas dívidas e satisfazer suas demandas pessoais. Vão atrás do “Cristo glorioso” pois este é mais ameno, mais doce, mais agradável e mais correspondente a seus sonhos de poder, grandeza e sucesso, esquecendo que a hora da glória de Jesus é sua crucificação, quando manifesta o amor do Pai até as últimas consequências. Mas eles pulam esta parte ou a disfarçam com paramentos e ornamentações que não têm nada a ver com o Crucificado. Não é este o sinal que procuram. Esquecem o Filho do Homem. A encarnação é um tabu. Jesus de Nazaré que passa pelas estradas do mundo fazendo o bem é censurado, pois incomoda o cristianismo acomodado. Deus encarnado é exigente, traz posturas e atitudes, como a pobreza, a misericórdia, a solidariedade, a proximidade com os pecadores, a identificação com os pobres, a partilha e o amor gratuito e desinteressado, que colocam em discussão nossa humanidade. É bom entender uma vez por todas que o Filho do Homem não significa, mas é a presença de Deus nesta terra! Ele é muito mais do que um sinal de Deus, é o seu rosto com semblante humano para que todo ser humano possa conhecê-lo e assemelhar a Ele para ser mais um sinal do Pai na terra.
(Pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)