
O Sonho do Pe Ezequiel Ramin para os indígenas da Amazônia
“Gostaria de dizer algo especial para vocês que são sensíveis às coisas belas: tenham um sonho! Cultivem um sonho bonito e o sigam por toda a vida! A vida que tem um sonho é uma vida feliz. A vida que segue um sonho é uma vida que se renova a cada dia. A nossa vida que parece longa, na verdade é curta. Que o sonho de vocês faça felizes não somente todas as pessoas, mas inclusive as próximas gerações. É belo sonhar de fazer feliz toda a humanidade. Não é impossível!” Pe. Ezequiel R. 1981
Pe Ezequiel Ramin com os pais: Mário e Amirabile, Pádua 1980
“Se minha vida lhe pertence, também lhe pertence minha morte”
Esta frase dita pelo Pe Ezequiel Ramin tem, de fato, um sentido profundamente missionário, de total entrega a Deus e à missão.
“Se minha vida lhe pertence..” expressa sua vida encarnada e doada aos mais pobres dos pobres. Primeiro, é importante ter bem claro que esta frase não tem somente um sentido físico pessoal de vida e morte mas, sobretudo, de VOCAÇÃO e MISSÃO, em sentido amplo. De fato, sua vida de consagrado e ordenado já não é apenas propriedade sua, mas da Igreja e com esta, fazendo-se presente em todo o mundo, intimamente ligada ao coração de Cristo, cabeça da mesma Igreja. Partindo daqui, podemos entender o que o Pe. Ezequiel nos quer ensinar com esta afirmação de pertença: vida, morte, povo, Amazônia. Com isso, entendemos também, a paixão de um coração missionário, que ao encarnar-se numa realidade onde a vida está ameaçada, faz um pacto com as principais vítimas do sistema. E, tomado de grande amor e (com)paixão é capaz de ir até às últimas consequências, doando sua vida. E para que possamos entender o sentido das palavras e da frase como um todo, se faz necessário “comungar” da vida, vocação, paixão e missão deste jovem missionário e mártir. Eis aqui uma bonita catequese a partir dessa afirmação e do testemunho deixado por ele.
A segunda parte da frase “…também lhe pertence minha morte”, exige uma cuidadosa reflexão a fim de entendermos o contexto em que ela foi dita, mas também nos cabe atualizá-la. Se pensarmos na morte, como fim, tudo estaria acabado naquela manhã do dia de 24 de julho de 1985. Mas não foi isso que o Pe Ezequiel quis nos deixar como testemunho missionário e profético. Sua morte precisa ser interpretada à luz de uma análise que possibilita VER o contexto do martírio: Amazônia; anos 80; regime político de forte repressão pela ditadura militar; intenso fluxo migratório procedente de todas regiões do Brasil e conflitos armados em diversas partes da Rondônia. Dentro desse cenário estavam as vítimas esquecidas e invisíveis, como reféns dos ‘lobos’. E por força do Espírito, autor e protagonista da missão, os profetas se compadecem das vítimas e estas transformam-se em causa, gerando opção preferencial e evangélica, que naquela época era opção clara na diocese de Ji-Paraná, liderada pelo então pastor, dom Antonio Possamai. Aí está, portanto, a interpretação: minha morte é minha CAUSA. Vejam, a “morte” já não é mais morte. Ela é transformada em causa, que é motivo de vida, missão e entrega… Se torna força de ressurreição!
Passados 34 anos, é possível experimentar um sentimento e ardor missionário semelhante ao que moveu o Pe Ezequiel, o qual foi profundamente tomado no coração e em todo o seu ser: as razões evangélicas de sua entrega. A vida de Ezequiel pertence, de fato, a todas as pessoas, às quais ele se doou pessoalmente: famílias sem terra ameaçadas de expulsão e morte; Comunidades Indígenas, igualmente ameaçadas; e a Amazônia como um todo. Mas pertence igualmente a todas e todos nós, às Comunidades e Organizações sociais que comungam a fé no Crucificado-Ressuscitado e n’Ele fazem memória dando testemunho de fé na realidade concreta. Também, consideramos elementos de pertença à sua vida os sinais de libertação que surgiram, a partir do sangue derramado: Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), Projeto/Instituto Padre Ezequiel Ramin (IPER), Associações, Acampamentos, Assentamentos, etc. São sinais proféticos que perpetuam o milagre das reais transformações sociais, incomodando as forças contrárias que ameaçam o bem viver. Pe. Ezequiel, sua vida é nossa vida. Sua causa é nossa causa!
A opção pelos pobres e pela Amazônia é memória martirial e Pascal ontem, hoje e sempre!
José Aparecido de Oliveira
Instituto Padre Ezequiel Ramin – IPER, Rondônia
Pe Jorge Benavides, comunidade do Baixo Madeira, Rondônia
Orção em honra do Pe. Ezequiel Ramin
Ó Deus de misericórdia,
nós vos agradecemos pelo
vosso Servo Pe. Ezequiel Ramin,
mártir a serviço da vida na Amazônia.
Seu testemunho de seguimento a Cristo
e de amor aos indígenas e pobres sem-terra
nos impulsa a sair de nós mesmos e
a sonhar com um mundo mais justo e solidário,
em harmonia com toda a Criação.
Fazei que, inspirados por este mesmo amor,
nos tornemos discípulos missionários
da Boa Nova do Reino,
capazes de testemunhar a todos os povos
vosso amor e esperança.
Por sua intercessão,
concedei-nos a graça que necessitamos…
Por Nosso Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.
Amém
Acesse o Vídeo: Pe Ezequiel Ramin, Mártir da Opção pelos Pobres