O Testamento do Apóstolo Paulo
“Acorrentado pelo Espírito” (Atos 20:22), o apóstolo Paulo deve ir para Jerusalém e de lá partir para Roma. Mas antes de dar esse passo, sabendo que não veria mais os membros das comunidades que havia fundado até então, decide parar em Mileto, onde se reúne com os líderes da igreja de Éfeso e das comunidades adjacentes. Durante a reunião, ele faz um discurso de despedida emocionado durante o qual instrui seus sucessores (Atos 20:17-38). O primeiro apelo é de vigilância. O missionário deve velar por si mesmo e por todos aqueles que lhe são confiados, não como um mestre que controla a situação para melhor dominá-la, mas como o Bom Pastor que cuida de suas ovelhas e dá sua vida por elas. Se os poderosos do mundo gostam de dominá-lo, os discípulos de Jesus se distinguem por seu espírito de serviço. O missionário deve evitar a mania da grandeza e a tentação do poder. Ele não foi chamado para ser o dono, mas um simples administrador. O rebanho pertence a Deus, que o resgatou com o sangue de seu Filho. É precioso. É inestimável. Ele deve ser tratado com respeito e ajudado a crescer na liberdade dos filhos de Deus. Usá-lo para ganho pessoal ou para satisfazer a ânsia de poder de presbíteros maníacos de grandeza é sacrilégio. O jarro de água, a bacia e o avental são utensílios que nunca devem faltar em nossas comunidades. Estes são alguns dos dons que Jesus nos deixou para nos lembrar que a melhor maneira de usar a própria vida é colocá-la a serviço dos outros. Ai daqueles que são missionários de profissão e, sobretudo, usam o anúncio do Evangelho para acumular riquezas e vantagens pessoais. O padre apegado ao dinheiro ou, pior ainda, o padre preguiçoso que pesa no bolso dos fiéis é motivo de escândalo. Aqueles que recebem a tarefa de anunciar o Evangelho e coordenar uma comunidade são chamados a dar testemunho da pobreza. O missionário deve sempre ter cuidado para não cair na tentação da mundanidade. Seu estilo de vida deve ser sóbrio. O apóstolo Paulo nunca foi um fardo para ninguém. Ele trabalhou duro para atender às suas necessidades. Seu serviço ao Evangelho sempre foi vivido em nome da gratuidade. Nunca exigiu nada em troca. Nos três anos em que conviveu com eles, doou tudo de si mesmo, seguindo o exemplo do Mestre que deu tudo por amor. É dessa gratuidade que brota a alegria do missionário. Finalmente, Paulo exorta seus sucessores a não se aliarem com pessoas importantes para obter privilégios, mas a terem atenção especial aos pobres e a cuidarem dos mais fracos. No final do discurso de Paulo, os presentes se ajoelham e oram por ele. Depois, o cercam e o abraçam, chorando. Cenas como essa são comuns na vida do missionário. Aqueles que não sentem saudade é porque não amaram nem se deixaram amar pelas pessoas com quem compartilharam uma parte de sua vida. O/a missionário/a que tem a coragem de se doar com alegria jamais será esquecido. Seu nome, seu rosto e seu testemunho, mesmo que distantes fisicamente, sempre serão um importante ponto de referência para aqueles que permanecem. (Pe. Xavier Paolillo, Missionário Comboniano)