
O testemunho de João Batista (Jo 3,31-36)
Alguém, apontando para o Batista que Jesus está se tornando cada vez mais “famoso”, insinua a dúvida de que ele e seus discípulos estariam em competição para ganharem espaço e fiéis. João adverte contra o perigo da inveja. Os discípulos do Batista ficam tristes ao ver o crescimento de Jesus, cuja fama corre o risco de ofuscar a figura de seu mestre. Mas ele dá testemunho de Jesus, apontando-o como o noivo e fala de si mesmo como o amigo do noivo. Todos são testemunhas de que ele, a partir do deserto, fez questão de alertar que não era o Cristo, mas um enviado de Deus para preparar-lhe o caminho. Os discípulos do Batista ainda estão fortemente ligados a um modo de pensar muito terreno que dá origem a insinuações e desencadeia mecanismos de mau humor, tensão, rivalidades e ressentimentos. O Batista, por sua vez, sabe muito bem do papel dele. Está na hora de retirar-se para fazer espaço ao Messias. A tristeza de seus discípulos nasce da inveja, do medo da concorrência de Jesus e seus discípulos, porque ainda os enxergam somo rivais, enquanto o Batista está cheio de alegria, porque ele não vê em Jesus um adversário, mas o dom de Deus. Ele não pode deixar de se alegrar com a sua voz, porque, depois do tempo de espera, chegou a hora das núpcias em que o esposo oferece o vinho da Graça de Deus que traz vida em plenitude. A partir de agora, é necessário que Jesus cresça e que ele diminua (don Pasquale Giordano). João nos ensina como ser e fazer para evitar a cilada da autoreferencialidade e a tentação do messianismo que abusa de Deus como “marketeiro de campanha eleitoral” e depois O dispensa quando o resultado nas urnas não corresponde ao almejado. O “Deus acima de tudo e de todos”, tão exaltado pelos falsos messias, não passa de um ídolo por eles fabricado como “tanque de guerra” que passa por cima de tudo e de todos e faz terra queimada por onde anda somente para impor as birras do déspota de turno. João não faz nada disso. Não recorre a armas para impor o terror nem usa efeitos especiais para aliciar fanáticos seguidores. Não seduz com milagres e promessas mirabolantes. Convoca o povo para a dura experiência do deserto para encarar um novo Êxodo. Conclama à conversão. Chama a atenção das multidões com seu estilo de vida radicalmente sóbrio, essencial, coerente até às últimas consequências e, sobretudo, profético. É despojado de tudo, até de si mesmo. Não é o protagonista principal, mas um coadjuvante. É só uma testemunha. Não passa pela sua cabeça a possibilidade de ocupar o lugar de Jesus. “Aquele homem da aparência rude e de poucas palavras, não se gloria de nenhum mérito. É exatamente o contrário dos pavões e fanfarrões que aparecem por aí. Não responde por adição de méritos, títulos, competências, mas por subtração, apontando o caminho da essencialidade. Ninguém é profeta por acumulação de prestígio, mas por espoliação” (Ermes Ronchi).
Não atrai para si, mas encaminha para Jesus. É uma lâmpada que está acesa e brilha não de luz própria nem tampouco de luzes artificiais que obcecam no lugar de abrir os olhos à verdade, mas como reflexo da luz que vem de Deus. Aponta para Cristo, luz do mundo. É Ele o verdadeiro Messias. Convida seus discípulos a tirar os olhos de si para olhar para Jesus, a crer no Filho de Deus. Faz a mesma coisa de Maria nas bodas de Caná, quando convidou os servos a escutar o Filho e fazer tudo conforme Sua Palavra, porque é Ele que sabe tudo a respeito do Pai. Só Ele pode dar testemunho autêntico de Deus. Suas palavras não são palavras dos homens, mas as palavras de Deus através das quais o Espírito Santo age. Quem recebe seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro, pois Jesus fala a mesma linguagem de Deus e concede o Espírito Santo sem medidas. Portanto, nada de ficar tristes com o sucesso de Jesus. Pelo contrário. Está na hora de viver a alegria de sua presença no meio de nós. “A alegria do cristão é fruto do Espírito de Deus que Jesus crucificado ressuscitado nos dá. É a alegria dos servos que, obedecendo à palavra de Jesus, põem em prática o mandamento do amor. Assim como os servos de Caná da Galileia descobriram que Jesus é o verdadeiro esposo que traz o Evangelho da alegria, assim também aqueles que obedecem à palavra de Jesus se enchem de alegria e se tornam testemunhas da graça que flui em abundância do coração de Deus” (don Giordano). Jesus possui a vida plena: quem crê nele participa desta mesma vida. Ao contrário, quem não crê está incapacitado para a vida.
(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)