Os combonianos e os Povos Indígenas da Amazônia

“A Igreja está na Amazônia não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”. “Os desafios conclamam a Igreja na Amazônia a ser missionária, misericordiosa e profética. É preciso apresentar um rosto amazônico da Igreja. A Igreja só poderá encontrar um rosto amazônico à medida que se envolver realmente”. (Papa Francisco e Card. Cláudio Hummes)

padre Deivith Zanioli, missionario comboniano em Boa Vista Roraima, com um grupo de jovens indigenas makuxi

A Amazônia (amazonas incluído) ainda conserva uma das maiores reservas de diversidade cultural e biológica do mundo. “A importância destes lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar” (LS 38). 

Povos indígenas (impropriamente designados como índios, ou tribos) ocuparam ancestralmente o espaço amazônico a partir de práticas produtivas que lhes permitiram desenvolver suas civilizações e obter recursos necessários à sua subsistência sem fraturar a capacidade do entorno natural, ao ponto que hoje em dia importantes reservas de recursos naturais estratégicos, como agua doce, mineral de ferro, biodiversidade e outros, encontram-se concentrados na Amazônia nos territórios indígenas.

As políticas de colonização, ocupação territorial e extração de recursos provocaram despejos, aniquilamento ou escravidão das populações ancestrais. Os modernos projetos extrativos (minas) e as infraestruturas de produção de energia ocupam espaços imensos, contaminam o entorno natural e provocam perdas irreparáveis na cultura e paz social dos povos afetados, especialmente indígenas, ribeirinhos e quilombolas.

A colonização da Amazônia acontece ao reboque desses mega-projetos, provocando uma urbanização descontrolada, a perda da identidade cultural e do vínculo entre populações e meio ambiente, bem como o aumento da violência, da criminalização e da perseguição dos líderes comunitários e defensores de direitos humanos.

Nesse cenário, a Igreja vem trabalhando há tempo junto às comunidades locais, acompanhando-as, promovendo suas ações de defesa e suas lutas de reivindicação de direitos e vida. Os combonianos se inserem nesse trabalho pastoral amazônico, a partir de uma história bonita, mesmo se escondida e às vezes frágil, de formação das CEBs em áreas rurais e urbanas, organização popular, apoio à reforma agrária e aos movimentos sociais, acompanhamento dos povos indígenas, seus líderes e suas organizações. Pe. Ezequiel Ramin é símbolo dessa entrega, que continua ainda hoje através de diversos confrades.

O comboniano comprometido com a evangelização no mundo amazônico continua sendo persistente no trabalho pastoral, humilde e próximo às pessoas simples, acostumado à escuta e aprendizagem, valorizando as diferenças e o diálogo inter-religioso, disposto ao estudo e aprofundamento, comprometido na defesa dos direitos socioambientais, sem medo do conflito e articulado em rede.

Hoje, nosso empenho pastoral na Amazônia se dá nos centros urbanos de Manaus, Porto Velho e Boa Vista, através da pastoral paroquial, da formação bíblica, de líderes e seminaristas, no acompanhamento de algumas populações ribeirinhas ao longo do rio Madeira e das comunidades indígenas macuxi e wapixana em Roraima. Também destacamos o empenho comboniano no enfrentamento das violações provocadas pelos empreendimentos minero-siderúrgicos na Amazônia oriental, através da atuação da rede Justiça nos Trilhos ao longo do Corredor de Carajás (comunidades de Piquiá e São Luís – MA).

Trabalhamos em rede com outros organismos eclesiais e movimentos sociais. Destacamos, em particular, a atuação comboniana junto à Vivat International, à Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), à Rede Brasileira de Justiça Ambiental e à rede latino-americana Iglesias y Minería.

[1] Vivat International é uma ONG de congregações religiosas, fundada por verbitas e espiritanos, com status consultivo no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. Os missionários/as combonianos/as são associados a essa ONG e têm colaborado em alguns casos de denúncia de violação de direitos humanos, especialmente na Comissão Interamericana dos Direitos Humanos em Washington ou no Alto Comissionado dos Direitos Humanos em Genebra.

[2] A Rede Eclesial Panamazônica –REPAM- é uma plataforma de intercâmbio e confluência dos esforços das igrejas locais dos 9 países da bacia amazônica, das congregações religiosas, instituições eclesiais e laicais, que se propõe “potencializar de maneira articulada a ação da Igreja em território Panamazônico, atualizando e concretizando opções apostólicas conjuntas, integrais e multiescalares, para o acompanhamento e promoção das comunidades locais”. Os combonianos do Brasil fazem parte dessa rede desde sua fundação (2014) e compõem seu comitê executivo ampliado.

[3]Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) é resultado da iniciativa de diversos movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores, organizações não-governamentais (ONGs), entidades ambientalistas, pesquisadores acadêmicos e organizações deafrodescendentes e indígenas. Fundada em 2001, atua nas lutaspor justiçaambiental e na defesa dos grupos mais afetados com os impactos da degradação ambientale que têm menor poder para definir como devem ser utilizados o meio ambiente e os recursos naturais de seus territórios injustiçados. Os combonianos do Brasil são membros da RBJA desde 2008 e compuseram seu Colegiado Político de 2010 a 2015.

[4] Iglesias y Minería é uma rede ecumênica latino-americana de apoio às comunidades impactadas por mineração. Criada em 2013 com a contribuição dos Missionários Combonianos do Brasil, é composta por representantes de grupos pastorais e instituições religiosas de inspiração cristã e trabalha na formação popular, na denúncia das violações provocadas pela mineração e na incidência junto às hierarquias das igrejas.